11.12.09


 


Haverá gente informada que desconheça de todo o Natal? Uns mais, outros menos, alguns desta maneira, outros doutra, fulano concordando, sicrano discordando e beltrano assim-assim, é difícil encontrar alguém que não tenha opinião sobre esta data. Há poucas dúvidas sobre o que se deve fazer em cada contexto cultural e familiar para se vivenciar esta época. Há uma postura natalícia, um semblante que transmite um estado de alma tipicamente natalício. Há uma espécie de sentimento colectivo de bondade, solidariedade e partilha. Cumprimentam-se desconhecidos porque há maior probabilidade de sermos cumprimentados de volta. Os conhecidos são promovidos a amigos e os amigos a irmãos. Os gestos ganham um novo significado e nunca, em parte alguma, alimentar os pombos no parque deu tamanha sensação de bem-estar.

 

O Natal poderia bem ser um conto de fadas, com as virtudes organizadoras dos caóticos inconscientes das crianças que os contos de fadas encerram, mas falha num pormenor: não é opcional. E, por muito que se tente, não é fácil sobrar às investidas natalícias que todos os canais, ruas, lojas e demais agentes comerciais fazem.

O Natal poderia ser um símbolo, um daqueles símbolos que sintonizasse as pessoas, todas as pessoas, num padrão universal de boa vontade. Um arquétipo de alegria, felicidade e de todas essas coisas boas que procuramos incessantemente desde o dia em que nascemos.

O Natal poderia ser tudo aquilo para que foi inventado. No entanto, não é. Escapa, como água das mãos, no essencial. Como explicar ao solitário que o Natal é partilha? Que alegria se encontra naqueles que perderam tudo? É possível fazer um intervalo na amargura, suspender a tristeza? Quanta pressão recai sobre aqueles que, chegada a época festiva, se obrigam contrariados a colocar a máscara festiva?

 

Todos precisamos de contos de fadas para que o mundo real se faça através da imaginação. Todos precisamos de símbolos para que nos entendamos e nos unamos. Fantasia e união deveriam ser os grandes objectivos do Natal, a razão da sua invenção. Fosse possível subtrair o Homem ao Natal e teríamos o Natal perfeito.

Não admira pois que haja um Natal por cada pessoa e que, no final, cada um deles seja tão diferente do inicial, do esperado, do dos outros. É o Natal que temos, é o nosso Natal, com os primores e desgraças da exclusividade. E é admirável o esforço que investimos na tentativa de colar o nosso Natal ao dos outros, presenteando presentes bonitos, comendo comidas alegóricas e cumprindo todo o ritual instituído pelos agentes comerciais e também pela cultura e família.

 

Há, no fundo, tanto Natal na alegre criança que recebe montes de brinquedos como no idoso que, sozinho e doente, alimenta os pombos no parque da cidade ao fim da tarde, desde que ninguém note a diferença.

 

Smith

 
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