31.8.12

 

[…]

Se estendo o braço, chego exatamente aonde o meu braço chega – Nem um centímetro mais longe.

Toco só onde toco, não aonde penso.

Só me posso sentar aonde estou.

E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras.

Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,

E vivemos vadios da nossa realidade.

E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.

 

Excerto do poema "Não Tenho Pressa" de Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

 

Estou aqui mas não estou bem. Quero estar noutro lugar. Quero partir, sair daqui, já. Ou talvez daqui a pouco. Amanhã. Amanhã ou depois. Para a semana. Ou na outra. Ou então agora. Sim, é melhor partir já antes que me arrependa. Ou esperar um pouco para amadurecer a ideia. Não sei. Tenho que mudar. Tenho que ser forte. Mas aqui estou tão seguro. Mas nada acontece. Ai!...

Esquece, meu! Volta ao trabalho! O trabalho distrai. Trabalha e cala-te!

Hum… E se… Não! Esquece! Hum… E se me demitisse? Vá lá, meu! Juízo! Sim! E partiria por aí… O que é que te impede? Nada! Tudo! Tudo, meu! Fica quietinho, vá! Trabalha e foca-te! Hum…

Estou farto desta rotina! Todos os dias as mesmas merdas! Estou cheio! Estou mesmo cheio! Não foi para isto que me alistei nesta vida. Todos os dias tenho que olhar para a cara destes idiotas. Todos os dias tenho que fazer as coisas de todos os dias… Estou tão farto! Trabalha, caraças! Trabalha e esquece! Estás em dia não.

Ok! Trabalhemos então… Pega lá no saco das rolhas! Carrega, camelo! Sei bem onde enfiaria este saco… E depois era a demissão… É! Ia por aí… Sem rumo. Irra, que isto pesa!

E se ao menos aqui fizesse sol… Com sol tudo melhora. Mas não. Nada. Sol não falta lá em baixo. Ou aqui ao lado. Onde também há gajas. Sol e gajas. É o que há. E eu aqui… Tão longe… Onde não há nada. Só rolhas. Rolhas e esta cambada de palermas. Onde também eu estou. E sou… Que palerma, meu Deus!

Com tanto mundo por aí afora tinha que ficar encafuado aqui neste buraco. E daqui não há meios de sair. Sou tão cagarolas… O melhor é ir trabalhando.

Um dia saio. Hoje não mas um dia… Deixo tudo e vou-me. Por agora carrego. Carrego e calo-me. Afinal foi escolha minha. Estou aqui porque quero. Ninguém me obrigou. Podia ter estudado mais, talvez. Podia ter aproveitado melhor o tempo. Podia… Sei lá… Ter feito tudo diferente. Mas é isto que tenho. E não estou mal. Estou mais ou menos. Há quem esteja pior. Estou onde estou, sou o que sou.

Mas não o que quero. E por isso tenho que tratar disso. É! Mas faz as coisas bem-feitas, meu! Faz qualquer coisa mas vai com calma!

Estou onde estou, não onde quero estar… Por agora.

 

Joel Cunha

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28.8.12

 

Nem te digo o tempo que passou desde a última vez que te escrevi...

Estou em Pristina! Quem diria... O meu caminho está a ser percorrido com os passinhos que deve ter. Embora dispensasse algumas coisas que aconteceram, penso que me ajudaram a crescer e a compreender melhor os outros.

Namoros, sozinha, acompanhada... Uma frase que li e adorei: “não procures nos outros aquilo que não encontras em ti”. Ou seja, encontrar a ponta do nó, e isso torna-se mais fácil quando estamos longe, sós...

Mesmo distantes, tenho sempre aquelas duas pessoas e o meu pai, a estrelinha no céu que se foi juntar às outras três... E tanta falta me fazem...

O meu marido... Aquela pessoa que sabe de tudo, tudo o que sou, com toda a minha história, com todas as minhas birras. Merece que seja feliz e espero que seja comigo.

Bem, vamos ao que me levou a escrever em ti, o clima: quero registar o dia em que deixei de ver o sol. O céu ficou encoberto e brevemente começará a nevar por uns bons meses.

O clima, é o tema central destes dias por ser diferente, mas... em ti não consigo refletir sobre ele pois o que sinto mesmo é falta de um abraço...

Abraço! Peito com peito, dois braços a envolver-me, um tronco a ser envolvido pelos meus dois braços. Não há palavras que substituam isso, por mais horas que se passem no skype... Gostava mesmo de ter um abraço sem palavras... Gostava de voltar a ter o meu pai a chatear-me, a minha mãe a passar-se, a minha irmã a melgar...

Os princípios desta gente dão-me cabo do juízo... Ou os meus princípios é que dão. Falo, falo, falo e fico com a sensação de que não vale nada. Que estamos a fazer figura de urso, principalmente eu, pensando bem as coisas...

Nem sei o que quero... Seria melhor parar tudo e voltar, mas agora não dá para baixar os braços, pois estou no meio de algo grande, muito grande.

Os dias que mais custam? Aqueles em que abraços e beijinhos resolviam tudo. Não há palavras que reconfortem este mal-estar. É deixar passar, mas não esquecer estes dias é importante. É preciso saber como são para saber lidar com eles. Só! Não há reticências porque é só isto. É só isto que custa. É só deixar passar e viver da melhor forma. Tentar viver não chega.

Chamam-me para as conversas diárias no skype, família e marido, quem eu mais amo e tanta falta me fazem. Mas já nem essas conversas me consolam...

 

Sónia Abrantes (articulista convidada)


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24.8.12

 

Estar longe remete-me para saudade. Saudade do que fui, do que vivi, com quem vivi, com quem fui. Estar longe é uma panóplia de sensações. Quando estamos longe temos a sensação de que todo o mundo que conhecemos parou num certo momento. Congelou. Esperando por nós, que longe desse mundo, sentimos a nossa vida a avançar. Nem sempre como queremos. Muitas vezes de forma surpreendente. Estamos tão ligados em nós, que não nos apercebemos que o mundo que deixamos lá longe também gira, avança, com ou sem contratempos. Saber, sabemos, pelos contactos que estabelecemos, mas acabamos sempre por nos espantar como as pessoas mudam. Como as coisas mudam. Até as cidades mudam. Como as crianças que conhecêramos já são crescidas, como os adultos ganham rugas e cabelos brancos que não estavam ali. Como novas ruas aparecem do nada. Enfim! Como tudo o que estava intacto na nossa memória se modificou bruscamente. Talvez, tenha sido gradualmente, mas a distância barrou-nos o acesso a esse deslumbramento. E por isso, ficamos tão admirados, porque ainda estamos presos a memórias do passado. E de repente, dá uma sensação de vazio. De traição. Porque nós não estávamos lá para acompanhar essas mudanças. Sabíamos delas. Mas não as vivemos. É como se tivessem continuado sem nós. Claro que nós também continuamos. Sem eles. Ambos os lados perdem. Mas essa sensação de perda de preciosos momentos é inevitável.

Porém estar longe não significa não estar. Apesar de não ser como estar perto, é possível estar e ser, mesmo longe. Mas, o que mais domina é a saudade. E não só a saudade do que já foi. Também a saudade do que não podemos viver, mas que por outras bandas se vive. A saudade do que poderia ser se fossemos mais perto. Esta tristeza, que só culmina com o perto, num abraço bem apertado. Num riso bem sentido. Afinal, estar longe é estar bem mais perto da saudade!

 

Cecília Pinto

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21.8.12

 

Maria tem passado os últimos dias à cabeceira da cama onde a mãe, com a coragem que sempre lhe reconheceu, se debate para roubar à morte um minuto que seja da sua vida. Todos sabem que, aquela, sairá vencedora, mas a mãe dá-lhe luta. Ditaram-lhe a sentença depois de uma análise de rotina.

 

Naquela manhã, estúpida e caprichosamente bela, abandonaram o consultório com um inaudível, “Bom dia Sr. Dr.”, não queriam continuar a ouvir o que o médico tinha para lhes dizer, mais tarde telefonariam ou passariam novamente pelo consultório. Maria só queria fugir, ir para longe, recuar no tempo, ao tempo de uma hora atrás em que o desconhecimento fazia dela uma mulher feliz. Saíram em silêncio para a rua movimentada da baixa da cidade. Atordoada com a notícia, Maria olhava zangada para as pessoas com quem se cruzava, porque riam elas quando a ela só lhe apetecia chorar? Caminhavam sem falar. Maria não encontrava as palavras certas que traduzissem o que sentia. A dor, a raiva, a injustiça invadiam-na, mas qual a palavra que dava aos seus sentimentos a verdadeira intensidade? Não queria estar ali, onde poderia estar livre disto?

A memória não lhe deu tréguas, veio de mansinho, acusatória, lembrar-lhe como, desde muito cedo, procurou distanciar-se da mãe. Não gostava e evitava andar de mão dada quando saíam, irritava-a que ela aparecesse de surpresa no colégio. Mais recentemente, quando foi preciso preparar o seu casamento e o nascimento do filho, arranjou sempre maneira de lhe dar a entender que estava longe de conduzir a sua vida em função dos seus conselhos. Mas, tão depressa marcava o seu território como logo de seguida a procurava para saber como poderia resolver este ou aquele problema caseiro. Pesava-lhe a culpa pelas crises de afirmação que tantas vezes as separou.

Desde que saíram do consultório que a mãe ainda não a olhara de frente; o que estaria ela a pensar e a sentir? Invadiu-a uma enorme compaixão, e, quando finalmente se encararam, perceberam que tinham de encurtar a distância entre elas. Entregaram-se num abraço apertado.

Desde há sete anos que vivem um dia de cada vez, cada dia que passa é mais um dia que viveram juntas. É este o sentido da vida para aquela família - viverem mais um dia juntas, estarem próximas.

Maria deixou de querer fugir para longe. No momento em que fisicamente a mãe partir e definitivamente se separarem, ela quer estar perto - só pode estar perto.

 

Cidália Carvalho


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17.8.12

 

Quando pensamos na distância logo vem à mente o espaço físico, às vezes um mar que separa, uma terra que atravessa o caminho e nos afasta.

Lembramos de muitos que por nossa vida passaram e a distância, amiga do tempo, os levou embora.

Se penso do que estou longe, logo penso no mar. O cheiro do mar, a temperatura da água, os amigos na areia.

Infelizmente não estou só longe do mar. Com o tempo descobri que decisões na minha vida me afastaram de quem eu sou. Estou longe sim, mas de mim mesma, do que um dia pensei que seria, do que um dia quis para mim.

Me afastei dos meus sonhos porque era a única maneira de continuar viva. Ignorei aqueles conselhos que são jogados em nossa vida, que ao abandonar os sonhos o que realmente fazemos é nos abandonar.

Sonhos têm uma distância e às vezes é intolerável estar tão longe deles. Parecem guardados em uma montanha, tão distante que a caminhada para chegar a eles parece impossível.

Fácil é estar longe do mar. Difícil é estar tão longe de mim. Sem saber, ao renunciar ao que mais amava me perdi no meio do caminho, transformando minha trilha em uma passagem confusa e diferente.

Alguém me diz, tudo tem seus motivos, um dia você vai saber. Mas os dias passam e esse motivo não aparece, pelo contrário, a distância só aumenta.

Do tempo podemos estar longe, das paisagens também. Até de um grande amor nosso coração aguenta a separação. Mas quando sem perceber nos afastamos de nós mesmos abrimos um abismo aos nossos pés. A distância tem um frio no ar, apesar do sol que queima.

Estar longe de si mesmo é como morrer lentamente. É melhor tentar correr e acabar com essa distância, se reencontrar e ter de volta os sonhos.

De tantas coisas podemos estar longe! Mas ao soltar nossa própria mão da corda que nos liga ao coração, o chão se abre.

Ao me distanciar de mim, me afastei do mundo e ele de mim. A única ponte que posso construir está em alguma parte de minha alma. Mas ainda não achei.

 

Iara De Dupont (articulista convidada)


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14.8.12

 

 

Estão a aumentar os problemas com ansiedade nos jovens portugueses. Os médicos procuram as razões.

 

Em seis meses, Catarina, de 19 anos, deixou de conseguir fazer a pé os 15 minutos entre a casa e a faculdade. O metro ficou fora de questão, o autocarro tornou-se motivo de pânico e agora, diz, duvida que o táxi - que a safou no final do último semestre - lhe permita regressar normalmente às aulas. "Sabia que ia direta, confortável, agora já nem isso."

Os ataques de pânico chegaram à vida desta estudante de História acompanhados de taquicardia e dores de cabeça, do medo de uma doença mortal que não foi revelada por nenhum exame médico. "Sei que é psicológico mas acaba por ser limitativo. Vai-se agravando, deixamos de fazer as coisas com medo de que nos dê alguma coisa. Vou no metro sozinha e é aquela sensação de que vou morrer ali, com toda a gente a olhar e ao mesmo tempo ninguém conhecido."

Casos como o de Catarina, não havendo números que digam se estão a aumentar, começam a ser mais visíveis nos consultórios, confirmam psicólogos contactados pelo i. O momento de entrada na faculdade ou a transição para a vida profissional acabam por desencadear picos de ansiedade e pânico, que revelam quadros de depressão e insegurança que muitas vezes os pais só reconhecem quando são forçados a ir a uma urgência, explica Maria de Jesus Candeias, psicóloga clínica na Crescer, Centro de Psicologia Infantil e Juvenil. "Noto um aumento significativo dos casos e infelizmente ainda há uma grande desvalorização dos primeiros sinais de alerta do corpo."

Por detrás da ansiedade, que pode transformar-se em pânico, a psicóloga acredita que está o aumento da exigência dos papéis escolares e profissionais mas também o facto de os jovens crescerem mais sozinhos, com prejuízo para a autoconfiança e redes de segurança. Nuno Sousa, psicoterapeuta, acredita que o problema, embora seja sério, deve ser visto como uma oportunidade para uma sociedade em transformação, que pode a partir destes jovens integrar novos valores. "É uma geração ansiosa que não foi estimulada a pensar e a sentir, cresceu num período de ter e de consumo. Agora vive um momento em que o futuro é desconhecido, tanto para eles que são jovens, como para os cuidadores, para o Estado, para as instituições." Saber lidar com a mudança, aprendizagem normal nesta faixa etária, é por isso mais difícil. "Os modelos de vida que eram conhecidos, por exemplo para alguém com 18 anos, estão em risco e há dificuldade em reconhecer alternativas." A solução, defende, passa por saber usar a dificuldade. "Na consulta digo que catástrofe em grego significa mudança brusca, mas não tem de ser para pior."

 

Marta F. Reis, Publicado em 28 de Agosto de 2011, no jornal i

http://www1.ionline.pt/conteudo/145706-geracao--rasca-ataques-panico-sao-mais-visiveis


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10.8.12

 

Portugal, após o período de crescimento e desenvolvimento económico e social, que poderá balizar-se como tendo tido início na data de adesão à CEE (denominação da época), em 1986, e que terá culminado no período que mediou entre a realização da Expo 98 e a organização do Euro de futebol em 2004, entrou em estagnação e, de há um par de anos a esta parte, está em estagnação.

É humano, por ser agradável, que os portugueses rapidamente se tivessem habituado a ter casa e com níveis de conforto acrescidos, automóvel de cilindrada cada vez maior, férias muitas vezes no estrangeiro. Se e quando o dinheiro não era suficiente, havia crédito. Fácil e barato.

Alguém (quase todos?) se foi esquecendo de produzir, pelo menos para equivaler este nível de consumo de “primeiro mundo”.

A certa altura uma ou outra voz, mais ou menos isolada, foi preconizando que em Portugal se estava a viver acima das possibilidades. Não, não era connosco, com cada um de nós, quanto muito seria com algum vizinho, vagamente conhecido.

Do estado de negação Portugal teve que assumir a realidade, não nos aguentávamos sozinhos no barco; precisávamos de pedir ajuda às instituições europeias e mundiais. De fora veio e instalou-se alguém para nos dizer objetivamente quando, como e o que podíamos fazer.

Traduzindo: perdeu-se o emprego, perderam-se empresas, foram-se regalias e “direitos inalienáveis”; para além das férias perdeu-se a casa ou, então, como se teve, abrupta e radicalmente, que abandonar os hábitos consumistas, se temos casa, ela serve para nos isolarmos, muitos de nós como que ficámos em prisão domiciliária, pois sair custa dinheiro.

O acesso ao Serviço Nacional de Saúde ficou muito menos fácil para muitos.

Estamos deprimidos, envergonhados, frustrados, revoltados, com a autoestima a níveis mínimos.

Haverá capacidade, meios humanos e financeiros, para avaliar em tempo útil, quão doente Portugal (os portugueses) está? E essa falta de saúde mental de que modo e com que profundidade afeta a saúde física dos portugueses?

Portugal, o estado e a sociedade civil, como vai fazer para se tratar, para recuperar?

 

Jorge Saraiva (articulista convidado)


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7.8.12

 

Por estes dias, caravanas de carros com matrícula estrangeira vão atravessando as nossas fronteiras. Dentro destes carros, famílias portuguesas a viver no estrangeiro cumprem o ritual anual de regresso às origens e, na maior parte dos casos, um regresso a aldeias que vivem um estado de quase abandono, salpicadas aqui e ali por familiares mais velhos que vão teimosamente resistindo a abandonar as suas terras.

Com o regresso destes milhares de portugueses, por algumas semanas, entramos num registo de euforia coletiva. Deixamos de ter tanta necessidade de dormir, pois temos todo um ano de assuntos para colocar em dia, em sessões contínuas de tagarelice familiar. Os dias parecem curtos para tudo o que se quer ver e visitar. São dias de êxtase em que a realidade parece ser arrumada numa gaveta e a habitual depressão coletiva, agora alicerçada numa crise económica que o país atravessa, se desvanece.

Somos historicamente um país dado à melancolia e à tristeza. O fado está aí para o comprovar, no entanto, um qualquer turista estrangeiro que nos visite por estes dias, tem dificuldade em encontrar a melancolia e tristeza que fado tão bem transmite.

A hipomania tem tendência para ser subavaliada. É mais pequena do que a irmã mania, tem uma duração curta e pode ser confundida entre outras condições, com stress, bipolaridade, irritabilidade ou euforia, e quando se consegue finalmente uma consulta num técnico de saúde da especialidade, já a hipomania foi embora.

Infelizmente, por estes dias o país parece estar igualmente a passar um breve e ligeiro episódio de mania, que em breve se desvanecerá e dará de novo lugar à habitual melancolia e tristeza, como se tudo não durasse mais do que um sopro.

Embora apenas agora o mês de Agosto se tenha iniciado, já se podem começar a contar os dias para o fim deste ciclo de hipomania nacional.

 

Alexandre Teixeira (articulista convidado)


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3.8.12

 

Lembremo-nos de um homem com vontade de ser Super-homem, vontade de poder e de autotranscendência. No dia 25 de Agosto fará 112 anos que morreu.

Apologista de viver uma vida sem jugo. Saberá o leitor de que falo. Uma vida sem sujeições, sem canga (usada nos bois) nos nossos pescoços, sem condicionamentos.

 

No sábado passado, por volta das 19 horas, enquanto conduzia em direção a Viana do Castelo, a Zirinha, sentada ao meu lado, desabafa sobre as preocupações por que tem passado com o filho mais novo de 10 anos. O Gonçalo não gosta de se juntar aos colegas da turma, não gosta de almoçar com eles. Prefere almoçar sozinho. Perguntei-lhe se o Gonçalo se sentia triste, infeliz? Não, foi a resposta. Ele diz que não gosta dos temas das conversas dos colegas, só falam de certas partes do corpo das raparigas. Bem, perceberá o leitor que não terão sido estas as palavras que ele usou.

 

A acrescentar a este fato, parece ser que o menino não tem bons resultados às disciplinas que não aprecia e tem melhores às que tem interesse. É claro que a atenção de todos está centrada nos fracos resultados. Um dia foi parar à direção da escola. Contou aos ditos colegas que ia incendiar a casa e matar toda a gente. Grande celeuma! Juntaram-se elementos da direção, a psicóloga da escola, os colegas, todos a tentarem perceber o que estaria por detrás de tal conto. Perante a mãe, ao jantar, referiu que os colegas da turma são todos uns totós porque acreditam em tudo o que lhes é dito, por exemplo na história do incêndio que vira na televisão. Fora um teste. É claro que falhara aqui algo que não vamos dissecar.

 

Depois de várias visitas, durante meses, a duas psicólogas e uma pedopsiquiatra chegaram à conclusão que está tudo bem com o menino, com capacidades de raciocínio acima da média e com algumas dificuldades ao nível da gestão das próprias emoções e das relações sociais. Tem interesses muito particulares e muitos desinteresses. Talvez fosse bom tentar desenvolver no Gonçalo outros gostos, aconselharam. O Gonçalo depois de muitas perguntas ainda percebeu porque teve de ir tantas vezes ao médico. Ele sente-se muito bem. Está feliz! Agora os outros, esses parecem preocupados com a vida e com o comportamento do Gonçalo.

Como estará a saúde mental do Gonçalo? Talvez a pergunta devesse ser: como está a saúde mental do Gonçalo na ótica do conselho pedagógico da escola do Gonçalo?

 

Voltemos agora ao nosso polémico pensador. Em jeito provocatório, coloco a questão: poderemos deixar de lado as convenções sociais e as convicções e a moral?

 

Sabemos que precisamos da ciência e que, felizmente, tem ajudado imensas pessoas, tornando-as funcionais e mais felizes. Sabemos que precisamos de um ponto de partida, uma linha condutora, regras, mas têm de ser rígidas, tem de haver rótulos e verdades absolutas? Faria sentido reavaliar os atuais ideais ou criar novos? Há que compreender e aceitar a diferença e integrar, integrar, e criar novos modelos de, por exemplo, educação, não rotular e forçar a inclusão. Porque tem de ser o Gonçalo a adaptar-se ao modelo? Porque não providenciar um modelo que se adapte à individualidade, à singularidade do menino? Imagine o que sofrerá para terminar o ensino obrigatório.

 

Que opinião teria Friedrich Wilhelm Nietzsche (15.10.1844 – 25.08.1900) da Saúde Mental em Portugal em 2012?

 

Ana Teixeira


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