16.3.14

 

Costumo dizer que nós vimos ao Mundo sós. Excetuando os gémeos, todos chegamos sozinhos. Mas também os gémeos – até os siameses - têm de estar preparados, no exato momento que respiram o ar exterior da barriga da mãe, para viverem por eles mesmos. Temos um só corpo. Morremos só com ele, mesmo quando a nossa alma foi enriquecida por tanta, tanta gente…

A alma é, talvez, a melhor herança que a vida nos proporciona. É o que alimenta o corpo que chega a esta viagem de doidos que é a nossa sobrevivência. O que dá cor à visão, barulho à audição, pensamento ao cérebro. Só a alma dá sentido aos sentidos. É como a eletricidade que ilumina uma casa e que potencializa tudo o que é mecânico – como o nosso corpo. E é ela – a alma – que nos faz transpor a linha da sobrevivência pela vivência.

Poderia falar-vos de tantos alimentos energéticos para a alma, ao que damos valor, o que nos dá valor, o que dá valor ao Mundo. Daria para um ensaio inteiro, uma conversa de café até às tantas da madrugada, um sorriso por cada item na lista das coisas enriquecedoras. Mas, hoje, só por hoje, escolherei apenas um: não há preciosidade maior que um Amigo.

A Amizade é um clássico exemplo de um combustível que enrijece a alma. Que a completa. Que a conclui. Que a torna menos só. Que nos faz sentir, no fim da linha: “estou sozinho, mas não estou só.”  Um Amigo, por vezes, vale mais que um destino inteiro; é parceiro do caminho, companheiro das escolhas, mestre na orientação da nossa bússola do destino. Podemos encontrar um Amigo num encontrão à entrada de uma loja, à porta de uma escola, num momento de choro no autocarro; não precisamos deles a vida inteira, alguns só nos aparecem num relance, como um voo de uma andorinha. Outros até nem os conhecemos: alguém que escreveu o livro que tanto precisávamos de ler, um sorriso no restaurante num dia de tensão, alguém que afaga a cabeça do nosso filho e que nos diz “Que lindo menino que aqui tem”. Há Amizade em todo o lado. Nós é que os subestimamos.

Os melhores, claro, são os mais queridos (e, naturalmente, os mais ricos para nós na iminência de os perder). Podem ser de vários tipos: os mais antigos, que partilharam connosco as cadeiras da escola; os mais intensos, como aqueles que até nem conheces há algum tempo mas que já te encheram o coração em momentos pilares da tua vida; os mais despretensiosos, com quem bebes cervejas frescas numa esplanada e assistes ao futebol; os que dormem contigo e te prometem amor para sempre – mesmo que dure enquanto durar.

Não há valor que se iguale a um Amigo; são a nossa Família de Coração, aqueles que escolheste. E não nos enganemos a nós próprios: também podemos encontrar Amizade na nossa família- talvez o núcleo maior de Amizade que a alma poderá adquirir nesta nossa Volta ao Mundo.

Os basilares, aqueles que contamos pelos dedos, serão nossos até ao fim dos nossos dias, mesmo que não estejam lá; pelo menos estarão na riqueza da nossa alma. Mas um Amigo é mais do que a presença assídua, o abraço na hora de angústia, a reclamação que precisamos de ouvir quando traímos quem somos. A Amizade é muito mais que isso: é Amor que recebemos. E o Amor é, de fato, o que rege o Mundo. É a manta que nos acolhe quando partimos; sós em corpo, mas cheios num peito invadido por borboletas.

Permitam-me, então, que os homenageie neste texto, tão simples na palavra, mas tão intenso na minha verdade e intenção. Deles não preciso mais nada; apenas da Amizade que me dão e que eu aceito acolher no meu regaço; como diria Voltaire: “Todas as riquezas do Mundo não valem um bom Amigo.”

Obrigada. Por tanto.

 

Sofia Cruz

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 10:00  Comentar

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