21.3.14

 

"Os nossos jovens gostam de luxo e são mal-educados, não respeitam as autoridades e não têm a menor consideração pelos mais velhos. Os nossos filhos são hoje uns verdadeiros tiranos. Não se levantam quando entra um ancião. Respondem aos pais e são simplesmente maus".

(Sócrates, 470 - 399 a.C.)

 

"Já não tenho nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar amanhã o poder. Esta juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível".

(Hesíodo, 750 - 650 a.C.)

 

"Esta é uma juventude falhada. Os jovens são ociosos. Não são como os de antigamente. Não serão capazes de manter a nossa cultura".

(Frase gravada num vaso de argila, descoberto nas ruínas da Babilónia, com mais de 4000 anos)

 

Estas afirmações são familiares, não são? São assustadoramente atuais. As gerações seguintes são, por tradição histórica, as grandes responsáveis pela perdição do mundo. Ao que parece, a humanidade já iniciou o seu declínio há pelo menos 4000 anos. Contudo, ainda cá estamos.

Esta mania de culpar a juventude pela perda de valores tem por detrás, na minha ótica, uma razão muito pouco nobre: o medo. Mas já lá vamos…

Entendo que os valores, na sua definição mais geral, são o resultado das necessidades de uma população, numa determinada época. Estão sempre contextualizados em lugar e em tempo. Assim, não se pode afirmar com propriedade que antigamente as pessoas tinham mais valores do que as pessoas de agora. Tinham, quando muito, outros valores, porque tinham outras necessidades. E não se pode afirmar também que, num determinado lugar e num determinado momento, há pessoas com mais valores do que outras. Há pessoas diferentes, com necessidades diferentes e, por consequência, com valores diferentes. E assim já é possível determinar na especificidade o conceito de valor.

Estamos todos de acordo que os valores não são inatos, não nascem com a pessoa. Aprendem-se pelo imperialismo gregário a que estamos votados. É condição indispensável para nos distinguirmos dos outros animais e para podermos socializar uns com os outros. Até porque cada espécie tem o seu próprio código de valores. Veja-se, por exemplo, o "respeito" que a alcateia tem pelo lobo dominante na hora da refeição ou na época do acasalamento.

Os valores são o código de conduta mais adequado para que determinada pessoa, perante determinado conjunto de situações, retire dele o melhor proveito para si sem que, por via da sua ação, prejudique deliberadamente terceiros.

Ora, à medida que vamos envelhecendo e cedendo às gerações seguintes as "rédeas" do mundo, tememos que o proveito que a juventude queira retirar das situações seja excessivamente benéfica para ela mesma e pouco respeitante das necessidades coletivas. No entanto, 4000 anos de história ensinaram-nos que, a ocorrer o "fim do mundo", não será por culpa da perda de valores. Será antes pela insistência na manipulação das necessidades das pessoas.

 

Joel Cunha

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 10:00  Comentar

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