25.9.15

Manguito.jpg

 

Minha alma é uma orquestra oculta; não sei que instrumentos tangem e rangem, cordas e harpas, tímbales e tambores, dentro de mim. Só me conheço como sinfonia.

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego

 

A Consciência, é o quê?

Dizem-me que já estive sem ela e deve ser verdade porque há seis dias na minha vida que, para mim, não existem. Ou por outro lado, pelas consequências que tiveram tenho a certeza que infelizmente existiram. Se fosse só pelos relatos, orais e escritos, duvidaria até hoje. Mas não, o meu corpo e a minha mente repetem-me constantemente e implacavelmente que sim, que embora “Eu” não estivesse lá, estava. Depois seguiram-se mais seis dias em que, na maioria das opiniões dos outros, terei continuado sem consciência, porque estados de coma, ainda que induzidos e de sedação profunda, levam-nos daqui para fora.

Diz o magnífico António Damásio, no seu Livro da Consciência, que a consciência é um estado mental em que temos conhecimento da nossa existência e da existência daquilo que nos rodeia. E, se bem o entendi, nem a dormir temos consciência. A consciência, continua Damásio, é o estado mental particular que inclui o conhecimento de que a dita existência ocupa uma certa situação. Antes que alguém adormeça de tédio, perdendo portanto a consciência, vou parar de citar autores brilhantes e de repetir incessantemente a palavra “consciência”, está bem?

 

Com tudo isto queria chegar apenas ao que sinto e ao que penso, depois de um hiato na minha existência (se estamos inconscientes, estamos vivos?). E a esse nível, falhando-me certamente conhecimentos científicos mas com o impulso da minha experiência pessoal, acho que tudo se resume a sabermos que somos.

Se aqui estou hoje a escrever este texto é, seguramente, porque mesmo “em coma”, ou coisa do género, senti sempre que era eu, fosse lá essa pessoa quem fosse. E que havia pessoas que amava e que ainda precisavam de mim; uma delas a sussurrar ao meu ouvido, teimosamente e contra todas as lógicas aplicáveis ao meu corpo e à minha mente, que voltasse, que recuperasse a nossa vida, que estava ali à minha espera. Durante os dias que se seguiram, ignorando a medicina e os maus augúrios que pairavam em atos e palavras, essa pessoa não desistiu. E eu, teimosa e empenhada, sabendo que não estava só, fui voltando. Ainda estou a voltar. Como me disse uma terapeuta, recentemente, o meu corpo agora é como um filme: tem várias sequelas. Eu ri-me a bom rir, não só porque adoro piadas como também só tenho motivos para rir. Estou com a minha família. Perdoem-me o vernáculo, mas sinto que fiz um manguito à Dona Morte.

 

Em conclusão, enquanto soubermos que existimos e que temos motivos para existir, temos consciência. E temos poder. Agora é só usarmos esse poder para espalhar Amor.

Assim à laia de pseudoescritora intelectualoide:

Minha alma é um espaço oculto; não sei que planetas e estrelas o habitam, quantas galáxias nascem e morrem nele, quandos buracos negros domina, quantos novos sóis brilham hoje nele, onde começa ou onde acaba. Só me conheço como universo.

 

Laura Palmer

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 08:00  Comentar

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