Pedro descobrira aquele refúgio por mero acaso. Uma improvável conjugação rochosa criara uma gruta de difícil acesso, dimensões consideráveis e quase impenetrável à luz. Fechou os olhos e avançou com movimentos delicados, tacteando o chão e as paredes, até encontrar uma zona de areia fina onde se sentou.
Ali, completamente só, despojado de tudo, envolto pela escuridão e pelo silêncio, pensou ter finalmente encontrado o que há muito tempo procurava: a tranquilidade e a paz. Sentiu-se muito leve, quase suspenso, liberto de demónios antigos que antes o asfixiavam. E assim se abandonou durante horas, numa renúncia confortável e reparadora.
De súbito, um raio de luz rasgou a gruta e criou na areia um círculo de contornos precisos. No centro, um pássaro vermelho, resplandecente, fitava Pedro. Instintivamente fechou os olhos, mas não conseguiu mantê-los cerrados nem desviar o olhar daquela presença de vida tão esmagadora. Sentiu-se inquieto, desconfiado e com medo. Os sentimentos negativos tinham voltado. E Pedro percebeu que a gruta apenas lhe proporcionara tranquilidade, mas não lhe trouxera a paz.
José Quelhas Lima