O meu Natal é um bocadinho estranho... é um Natal em que eu estou com uns e “abandono” outros. Eu tenho uma família cá (a de sangue) e uma família lá (a que criei) e nunca as consigo juntar. Há barreiras, muitas barreiras.
Há barreiras económicas, sociais, físicas, legais, geográficas.
E por isso, o meu Natal é cá ou lá, mas nunca é um Natal por inteiro. É o Natal em que prescindo de uns afectos para ter outros, um período em que por muito que eu gostasse de estar verdadeiramente onde estou, nunca estou. O meu corpo está cá e um bocadinho do meu coração também, e o resto está lá, em pensamento e emoção.
Eu tenho sempre que decidir onde vou passar o Natal e nunca, até hoje, fiquei feliz com a decisão. Tenho que decidir se tenho um Natal com neve ou sem neve, em inglês ou em português, com os abraços e beijos de uns ou de outros. Tenho que decidir que prendas é que dou pessoalmente e quais envio pelo correio.
O cá e o lá de que falo são universais, há muita, muita gente como eu por aí, a passar Natais em que se sente obrigada a estar feliz e agradecida pelos que estão presentes, mas não consegue deixar de pensar nos que não estão. Porque emigraram, porque não vivem aqui e nem sempre há como reunir todos os que amamos, ou até porque simplesmente morreram.
O meu Natal é feito de amor e gratidão e saudade e sentimentos de culpa por ter tantas saudades e não me conseguir dar por inteiro aos que estão comigo nem ao espírito de Natal.
O meu Natal não é infeliz... é apenas estranho, amargo e doce ao mesmo tempo, com o calor do amor dos que estão comigo em presença e dos que estão comigo em espírito. É um Natal com fantasmas que eu amo e pessoas ausentes que eu amo ainda mais.
Espero que tenham tido todos um Natal lindo, perfeito, com muito, muito amor, e mais presenças dos que ausências.
Dora Cabral