Sou um homem e sou livre.
Os meus antepassados carregaram nos seus ombros cansados um peso que continua hoje a marcar o meu presente e que traça já pegadas firmes no meu futuro. A História parece negar-me a possibilidade de protestar e reivindicar por aquilo que há de mais básico. Nas reacções dos outros, esbarro-me com a incompreensão fácil, às vezes, até mesmo uma revolta contida mal disfarçada “Mas de que te queixas tu? O tempo da escravidão já vai. És um sortudo!”. Eu sei que sim, mas será o fim da escravatura sinónimo de liberdade?
Eu não me sinto livre quando me olham de soslaio, como se fosse um intruso indesejado invadindo os espaços e confortos seguros dos senhores e senhoras de tez clara. Eu não me sinto livre quando vejo as oportunidades de escolha se irem reduzindo à medida que a minha pele se torna visível, ou quando tenho que provar sempre a tudo, a todos e a toda a hora, que sou merecedor de uma determinada responsabilidade. Eu não me sinto livre sempre que beijo a minha namorada na rua, enquanto passeamos, e me sinto fulminado por olhares chocados com a carícia de peles de cores contrastantes nesse gesto terno.
Sou um homem, sou livre, mas não me sinto nem me reconheço enquanto tal. Enquanto não deixar de me sentir aprisionado pelo preconceito dos outros, que me tolda o espírito e amargura a alma, não serei livre, continuarei a ser apenas um não-escravo.
A Liberdade é um direito fundamental reconhecido do Homem. Porém, para alguns homens e algumas mulheres, a dita Liberdade assume ainda hoje a forma de uma luta diária pelo gozo pleno desse direito.
Liliana Jesus
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