Ela tinha um irmão de quem não gostava. Tinha uma amiga que adorava. A amiga tinha uma cadelinha que era como sua irmã. Mais tarde, uma amiga disse-lhe que ela era a sua família, porque a sua família não lhe era nada, não sabia quem ela era, ao contrário da amiga.
Há laços que não se explicam como a amizade. Há ligações mais fortes que o próprio sangue.
Quando alguém nos é tão próximo, alguém em que podemos confiar, em que nos podemos apoiar, em que podemos ser nós, esse alguém é um amigo, não temporário. Esse, temporário, talvez seja um colega especial, mas, amigo é sim, alguém que permanece.
As amizades são relações. E toda a relação deve ser alimentada, senão não sobrevive. A amizade não foge à regra. Porque também esta está constantemente à mercê da mudança. Mudança das idades, dos contextos, da nossa visão da vida. Tudo isso se manifesta também numa relação de amizade. Por vezes, há choques. Nada é como foi. Nada. Mas, felizmente o que permanece, evolui.
Amigo, é alguém que dá sem esperar nada em troca. Pode ser amigo uma vez com outro. Mas eu falo de amizades verdadeiras que perduram. Essas não se fazem num momento, constroem-se. Podem, claro, surgir de um momento. Mas precisam de continuidade, histórias, contextos e partilhas, para serem continuadamente.
Os amigos são fundamentais à vida. À minha vida. Por vezes, são um bálsamo. Outras vezes funcionam como espelho de reflexão. Mas, sobretudo, brotam alegria em nós. A não ser quando partilhamos uma tristeza. Nessa altura, são como uma capa para a chuva que aquece.
Contar histórias de amizade não tem fim. Inúmeras as histórias que mostram a amizade verdadeira. Mas sentir amizade, é algo que não se conta. É difícil descrever. De explicar.
Por isso, amigo foi quando o tirou da rua. O cuidou. O alimentou. O abraçou. E respondeu-lhe o outro, cuidado e alimentado, em termos de lealdade. Ficou. Permaneceu. Até ao fim, viesse o que viesse. Ficou, o amigo.
Cecília Pinto
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