Será que deixamos entrar? Desde pequenos que nos ensinam “Não abras a porta a estranhos!”. Agora a mudança bate à porta descaradamente e nós que fazemos?
Foi o pensamento que me invadiu ontem, um dia que podia ter sido como outro qualquer, mas não foi porque uma pequena mudança bateu e entrou sem autorização.
Abri os olhos ainda meio a dormir e pensei que não me apetecia nada ir de bicicleta à ginástica... Acordei cheia de preguiça, arranjando motivos para ter que ir às compras e por isso ir de carro até à ginástica para seguir para o supermercado logo de seguida, como se se trata-se de uma urgência! E assim foi. Tudo decorreu calmamente até que, após arrumar o carrinho das compras, parei e apercebi-me que as chaves do carro tinham ficado dentro do carro com este todo trancado.
A primeira mudança à rotina aconteceu logo quando abri os olhos e decidi ir de carro até à ginástica, depois disso, foi um desenrolar de acontecimentos novos...
Ao olhar para o interior do carro lá estava a chave, em cima do tampo da mala. Podia ir até casa a pé, mas a chave de casa estava trancada dentro do carro...
Outra mudança à rotina também condicionou: o meu marido não estava a trabalhar perto de casa, como era habitual... Ontem calhou ser o dia em que, uma vez por acaso, tem que ir para o sul do país...
Liguei para a GNR que me disse que não podia fazer nada, assim como a PSP, restando-me apenas pagar a uma oficina para lá ir e arrombar o carro... Despesas nos dias de hoje não são nada bem vindas... Ainda ponderei “Arrombo o carro ou a casa para tirar a chave suplente do carro, o que me sai mais barato?”. Até isso mudou... Antigamente era mais fácil arrombar carros, pois todos tinham um pequeno botão na porta que a tranca e destranca, bastando conseguir chegar até ela para a abrir. Este carro é um modelo mais recente, que, com as mudanças, já não inclui esse botão tornando a tarefa de arrombar ainda mais difícil...
Optei por recorrer à minha sogra, pedindo que me adotasse durante o dia, até o meu marido chegar com a chave de casa. Mais uma pessoa com o dia cheio de mudanças, já que me acompanhou à escola onde dou aulas e foi comigo até ao local de um exame que tinha que fazer no Porto. Para ela foi um dia diferente, fora da sua rotina diária. Para mim também, apesar de continuar com os meus compromissos aos quais consegui ir graças a ela!
Ao chegar o meu marido, falámos de algumas mudanças que temos que fazer para que dias como este, com alterações pontuais que condicionam todo o dia, não pereçam pesadelos! A ideia de privacidade extrema, como por exemplo, não dar a chave de nossa casa a ninguém, é uma alteração. Eu ir ao supermercado com a carteira com chaves em vez de as deixar no carro, é outra.
Mais mudanças podem ocorrer com uma pequena alteração ao nosso normal. Um pequeno gesto faz toda a diferença... Os meus alunos, não habituados a verem-me de fato de treino, roupa com a qual permaneci todo o dia depois de sair da ginástica de manhã, exclamaram “Teacher, hoje estás de fato de treino!” Essa mudança de visual para eles significou algo...
No final do dia, estava tudo de volta ao normal, sem qualquer mudança aparente, mas será que a nossa mente permanece a mesma? Um dia passado com a minha sogra não é coisa comum... Professoras de inglês que vão de fato de treino, não é habitual...
Afinal, fica sempre uma porta aberta na nossa mente que nos mostra que a rotina diária pode ser alterada sem deixar grande marca no final do dia, pois, apesar das mudanças que a vida possa ter, continuamos a viver de uma forma ou de outra!
Sónia Abrantes (articulista convidada)