Discorrer sobre o tema “Estar longe” desagua em falar sobre o que gostamos, amamos ou amámos, tanto que até daquilo que nos fez sofrer chegamos a ter saudades.
[ao contrário, nunca estamos longe do que não nos interessa ou interessou, do que não gostamos. O que não nos interessa não está longe nem perto, não existe. Não tem longe, nem distância]
E o que é que nos faz a saudade?
Ou melhor, reformulando, o que é que nós fazemos com a saudade? É uma ausência, uma perda, uma espécie de “sugadouro” alienante ou uma espécie de referência? É uma força ou uma fraqueza? É uma raiz que nos alimenta e tonifica, nos ancora ou é um sorvedouro de energia?
Estar longe, a saudade, aguça-nos ou embota-nos o espírito.
Quando podemos, e depende da nossa vontade, voltar a “estar perto”, às vezes é bom estar longe, permite evitar o desgaste do dia-a-dia e recarregar baterias. Mas… e quando esse “regresso” não é possível? De que nos serve a memória, a saudade?
Por este prisma nós somos o corolário das nossas memórias, saudades, do que está longe – no tempo e na distância – potenciado ou diluído pela “espuma dos dias”.
A memória, a saudade do que nos marca tanto e que está longe, pode ser – naturalmente ou a partir de um maior esforço – a alavanca, o impulsionador do sonho que nos alimenta o presente e nos traz horizonte para o futuro.
Será, assim, o fermento da vontade de lutar, a força de querer a razão de ser e de realizar.
Jorge Saraiva (articulista convidado)