29.9.13

 

inFormação remete-me imediatamente para a dissociação. Fico, por um lado, com informação e do outro com formação. Não se trata, portanto, do estrangeirismo in = em (formação), ou ainda formação que seja chique = está in. Definido assim do que escrevo, vamos à informação:

Se for em demasia dificulta-nos a capacidade de seleção entre a relevante e a irrelevante, podendo ainda inibir-nos de reter o pormenor essencial da mesma. Temos, assim, um problema com a quantidade...

Tendo uma quantidade de fontes disponíveis em larga escala, torna-se por vezes difícil obter a melhor / fidedigna informação. Tendo uma quantidade de fontes disponíveis em larga escala, curiosamente acabamos por reduzir ao mínimo essas mesmas fontes. Ao fazê-lo podemos incorrer na informação tendenciosa e manipulada. Temos, assim, um problema com a origem...

Temos também um problema com o armazenamento. Mentalmente o que retemos afinal, e, qual o seu real interesse para as demandas do dia-a-dia? Informaticamente falando não se repetem as perguntas anteriores?

E se eu quiser passar a informação? Não será também um problema? Como é que eu (em certa medida sendo assim um (in)formador), posso garantir a qualidade do que transmito? Com base no bom senso, no meu conhecimento do assunto? Não me parecem suficientes como garantes. Lá está... “Só sei que nada sei”.

Quantidade – problema; origem – problema; armazenamento – problema; qualidade – problema; transmissão – problema...

Vamos à formação:

Considero-a, por uma série de razões, como de maior valor face à anterior. Em primeiro lugar porque geralmente se paga. Não que isto seja fator determinante, é certo, mas sendo paga geralmente implica que é procurada e dá-se valor. Sim, somos assim. Se for de borla não presta, podendo até ser melhor. Em segundo lugar, é pensada, mesmo que não seja eficaz na sua finalidade. E não escrevo apenas da formação que visa o conhecimento. A que visa o crescimento / maturação individual também aqui está incluída. Atualmente a formação cívica consta do plano curricular escolar, deixando assim de pertencer na totalidade ao escrutínio dos educadores ou da casualidade vivencial. Visto tal, arrisco em seguida que os nossos comportamentos derivam mais da segunda (formação), que da primeira (informação). Claro que não todos. Basta pensar num contexto laboral. Mas não serão os comportamentos “que realmente me caraterizam como indivíduo” mediados pela formação? Onde cabe a ética? A solidariedade?

Contudo, não estará a formação sujeita aos mesmos problemas levantados à informação? Claro que sim. Aliás, pensando bem no assunto não haveria formação sem informação. E de que serviria a informação se não fosse para formar? Se calhar, se reduzirmos esta cumplicidade apenas a esta questão, chegamos à conclusão que a única informação que vale a pena transmitir é (correndo os riscos anteriormente elencados), aquela que tem lugar no contexto formativo. Seja ele qual for...

 

Rui Duarte


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27.9.13

 

É inacreditável!!! É uma ousadia!!! É… pura e simplesmente ultrajante!!!

Para que se passam anos a estudar, a arrecadar competências e a assimilar conhecimento se tudo fica reduzido a um: “... mas Dr., eu vi na Internet e recolhi toda a informação de que necessito e sei perfeitamente do que preciso! O tratamento mais adequado são aqueles comprimidos Zolpidem Ratiopharm pois são compatíveis com o meu organismo, eu informei-me!!!... e aquelas massagens de mesoterapia aliviarão com certeza as dores de costas que tenho...!”

Mas as pessoas não tem noção do perigo que é recolher informação onde quer que seja, sobre o que quer que seja, se não tiverem conhecimentos e preparação para a utilizar??? Não!!! Claro que não!! É inacreditável considerarem-se preparados para fazer diagnósticos apenas porque se informaram sobre o significado de insónia na Wikipédia e o correspondente tratamento a aplicar em qualquer site na Internet. É uma ousadia chegarem a um consultório e ditarem ao médico especialista o tratamento que querem seguir, pois para além da informação que têm sobre o seu próprio corpo, adquiriram mais alguma com a vizinha do lado que padece do mesmo mal e informou-a detalhadamente de como, e o que deve fazer para pôr fim às suas maleitas.

É pura e simplesmente ultrajante que as informações recolhidas aleatoriamente, com substância ou com falta dela, com ou sem preparação, possam ditar e reger a vida daqueles que fazem de tudo para se manter informados sobre assuntos de que nada entendem.

 

Susana Cabral


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24.9.13

 

Diariamente somos alvo de informação manipulada pelos nossos líderes sociopatas. Intencionalmente somos condicionados com determinada informação, através dos média, para que acreditemos em mensagens que são, afinal, desinformação. Os média são um instrumento nas mãos do poder vigente.

Supostamente, três por cento dos homens e um por cento das mulheres são sociopatas. Entre os líderes a percentagem é muito maior. Então como é que eles chegam ao poder?

A teoria da informação, a ciência que nos proporciona esses conceitos úteis como relação sinal-ruído, fornece insights sobre a prevalência da sociopathocracy. Podemos compreender melhor o conceito através da "redundância". Trata-se da repetição da mensagem por forma a compensar o ruído e reduzir as mensagens divergentes. Quanto maior o número de mensagens redundantes menor será o número de novas mensagens (Claude Shannon).

Se contares uma mentira o suficiente de forma insistente as pessoas acabarão por acreditar nela.

A falta de auto-dúvida é, por definição, uma falta de variedade. É como que abafar opiniões divergentes na própria cabeça com uma ideia redundante imposta exteriormente. Nós invejamos, somos atraídos, e consideramos carismáticos os apaixonados insistentes, persistentes e determinados. No entanto, não deixemos que eles nos vençam pelo cansaço. Não deixemos que usem de intencional persuasão pela persistência.

Que dizer da guerra civil na Síria. A mensagem que é passada constantemente pelos média é que Bashar al-Assad é o único responsável pelas mortes de milhares de civis, por exemplo através do uso de armas químicas. Será que é mesmo assim?

 

Ana Teixeira


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22.9.13

Joelhos - Joachim Oppermann


Querido Júlio,

 

Escrevo-te esta carta porque nem me deste tempo para falar contigo, como devia ser, antes de embarcares. Ainda não fez uma semana que arrancaste daqui, eu sei, vais achar que sou tolinha, mas eu não estou bem, Júlio. Só de pensar, mais três meses sem te ver e com isto aqui entalado dentro de mim, dá-me uma coisinha ruim. Sei que vais ficar furioso mas ao menos só me berras quando voltares e eu, Júlio, se não falo, rebento. Há coisas que tu não me explicas devagar, pareces uma metralhadora, eu pergunto outra vez e tu enfureceste-te todo, Júlio, até te vejo as veias do pescoço a panicar! E o que é mais grave, Júlio, o que me magoa mesmo, mesmo, é rires-te na minha cara e chamares-me atrasadinha, ceguinha e coisas ainda piores. Isso não Júlio, já a minha santa mãezinha dizia que eu era capaz de tudo que eu quisesse, só que às vezes não sei muito bem o que quero, é só isso. E contigo, Júlio, é que não sei mesmo nada. Gritas coisas sem sentido, obrigas-me a ficar calada porque berras como um bezerro sem mãe, mas não sou burra nenhuma, ouviste bem?

Tu vais ter de me explicar outra vez, muito bem explicadinho, tintim por tintim, quem era aquela senhora que encontrei desfalecida no teu colo, na semana da Páscoa. Vais, vais! E não te faças de burro nem me digas que ela é cristã. Até estava a perceber tudo muito bem, aquilo mexeu comigo, tudo que me contaste da senhora, que vive cheia de problemas, que o marido a deixou com dois filhinhos, quase a ponto de se matar e tudo, Júlio, pelo amor de Deus, eu sou humana, mas chamares-lhe católica praticante? Blasfemas, Júlio! Blasfemas! Que o Senhor te perdoe porque eu estou em choque. Católica, Júlio? Católica? Não há católico nenhum aqui na aldeia que não vá à missa do Padre Cristóvão e eu nunca a vi lá, juro por esta luz que me alumia. E eu, Júlio, não falho uma missa, sabes muito bem disso. Dizes que ela reza muito, que passa a vida de joelhos, ó Júlio, pela tua rica saúde, ela nunca na vida se pode por de joelhos com aquela saia tão curta! E aqueles sapatos? Achas que alguma mulher se ajoelhava assim, sujeita a espetar aqueles tacões do demónio no traseiro? Deus pode ser muito grande, Júlio, mas se ela entrasse na igreja naqueles preparos, até Jesus tapava os olhos se conseguisse tirar os pregos das mãos, valha-me Deus. Até me arrepio, só de pensar nisso. E depois tu, Júlio, dentro do carro, atrás da cabana do Tio Afonso, com a cabeça a descair-te e a boca muito aberta. Juro por Deus que pensei que estavas a ter uma trombose, ou uma coisa daquelas que as pessoas ficam com a boquinha ao lado ou entrevadinhas, Júlio! Cheguei a pensar que ias morrer, mesmo completamente, Júlio! Foi, foi isso, vê tu bem a minha aflição. E depois chego-me ao carro e tens a senhora desfalecida no regaço? A saia já parecia um cinto e ela ali, com as pestanas dentro das tuas calças e nenhum de vocês percebeu que ela desfaleceu porque não conseguia respirar, com os vidros todos fechados? Pelo amor de Deus, Júlio, quem é o burro aqui? Quem é, afinal, Júlio, diz-me lá? E já agora, escancaravas a boca porquê? Sentiste-te mal por simpatia ou foi do calor intenso deste Verão antecipado? Disseste-me que ela tinha as tensões baixas e que as tuas estavam no pico do auge. Isso quer dizer o quê, Júlio? Com essa conversa de médico parece que fazes de propósito para me chamares ignorante… E ainda me dizes que eu sou uma cristã de caca, não foi bem assim, foi mil vezes pior, foi com aquela palavra que gostas muito de usar e que a mim me fere a alma. Não era preciso ofenderes-me, Júlio.

Eu sei que tens sido um bom marido, que és um cristão, não precisavas de gritar comigo. E também sei que tens razão quando me acusas de falhar enquanto tua mulher por causa daquelas infeções esquisitas que apanho sempre, pouco tempo depois de tu voltares. Eu juro por Deus, Júlio, que não percebo como é que aquilo acontece. E acredita que dispensava ver-te coçar as partes baixas mais vezes do que é habitual, Júlio. Vá, não te chateies. Não gostas de falar daqueles bichos que de vez em quando trazes das viagens, dá-te logo comichões. Já sei que não tens culpa, que é do calor e das tuas alergias e por estares muito fraquinho, trabalhas muito, eu sei. Até o médico me diz sempre que lá vou aflita, “devia falar com o seu marido”. Até ele, Júlio, deve saber que falas como um doutor embora trabalhes no mar e, vês, preocupa-se contigo. E não Júlio, não é para te castigar que eu tenho aquelas crises no baixo-ventre. Eu sei que não tens culpa de seres um homem sensível e seres atacado pela bicheza, eu sei. Apesar disso tudo, Júlio, eu gosto de ti e de sermos marido e mulher. Gosto, olha, gosto. Até me explode a alma cá dentro. Tu sabes que ainda agora, agorinha mesmo, eu gostava tanto que pudéssemos fazer aquilo, tu sabes, fazer o amor – Senhor me perdoe este pensamento cheio de pecado. Ai, Júlio, carregadinho de pecado... Ainda por cima, já não me dói nada, vê tu bem. Parece mau-olhado de alguma invejosa da nossa felicidade, Deus nos acuda, Júlio. Fico sempre boa quando não estás cá, parece castigo, não parece? Fico triste, penso tanto em ti quando estás embarcado. Não é como dizes, que se calhar eu tenho amantes quando andas fora a ganhar para o nosso sustento. Não é verdade, Júlio, eu dou-te valor e não tenho amantes nenhuns. Nem ao café vou sozinha! Não penso nisso, credo, até tinha medo, Júlio, endoideceste? Eu sei que tu gostas de mim, que te preocupas comigo, que és o sustento da casa, sempre me disseste para ter amigas e para continuar a ir ao encontro semanal para rezarmos e bordarmos. Na verdade, Júlio, de que me posso queixar eu? Eu sei que também tens direito a ter amigos e se dizes que a senhora é só tua amiga, Júlio, eu vou confiar em ti e tentar ser uma boa cristã. Não quero que fiques triste comigo, Júlio, vá lá, não nos quero mudos no teu regresso. Mas pela tua rica saúde, não me grites que me deixas mouquinha, está bem? Diz-me as coisas devagarinho, Júlio. Vou experimentar aquele novo unguento da Tia Nanda e pode ser que, quando voltares, eu possa cumprir as minhas obrigações. Ficas contente?

Desculpa Júlio se fui dura mas estava entaladinha. E, já agora, quando estiveres com a tua amiga, diz-lhe que experimente conversar sentada, com a cabeça para cima, e que não se esqueça de vestir roupa interior. É que se ela insiste em virar o rabinho para Meca, ali no matagal, a mostrar para quem quiser ver o sítio onde o sol não brilha, corre o risco de lhe morder um inseto nas partes baixas e ela, desesperadinha de dor, coitada, cerrar os dentes com toda a força. E olha, Júlio, se ela te desfalece no colo outra vez, a meio de uma crise, com a cabeça enfiada na tua braguilha, ainda ficas inválido pró resto da vida.

Pronto, Júlio, era isto que te queria dizer. Não voltes a partir sem te despedires de mim. Foi como me cravares um punhal no peito, Júlio. Ainda não parei de chorar desde esse dia, tenho este mal-estar no peito que nem me deixa respirar, umas enxaquecas que me matam. Não quero que te sintas culpado, não é isso Júlio, mas, que Deus te perdoe, se entretanto me acontecer alguma coisa.

Recebe um beijo da tua mulher que muito te respeita. E não te esqueças de lavar os pés todas as noites e de pôr os sapatos a arejar, por mais bêbado que chegues. Ainda matas alguém durante o sono, Júlio, Deus nos livre de tal fado. Escreve-me umas linhas quando puderes. Sabes que rezo por ti.

 

Com muito afeto,

A tua Berta

 

Alexandra Vaz


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20.9.13

 

A cada final de dia estás diferente. Recebeste pelo menos o equivalente a 174 jornais de informação. A memória, o processamento cerebral, as emoções e a energia foram alteradas. Já não és mais o mesmo… mudaste, porque nada é constante e a dinâmica da vida passa por ti a todo o instante. Mas a pergunta é a seguinte: é assim tão bom para o teu ser, para a tua essência, saber tanto sobre tudo, deixar-te envolver por tantos estímulos? E se por um só dia te centrares no silêncio, na quietude, para criar espaço em ti, contigo? Será que assim finalmente sentirás alguma paz, o quanto és especial? É que a informação faz falta, é algo que nos bombardeia, mas a atitude perante o que deixamos entrar depende de nós. InFormação, é antes de mais o movimento… para dentro (in) e só depois é que surge o efeito da mudança (formação). Então tu és o teu rei, tens o teu trono… só tu podes permitir ou não que aquilo que vês, lês, estudas, escutas, te afete. Cuida da tua FORMAÇÃO!

 

Sara Almeida


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17.9.13

 

As pessoas, assim que dominam o raciocínio abstrato, filosófico, político e crítico, entram na vida adulta. Para trás fica um percurso tortuoso, muito dependente da quantidade e da qualidade dos estímulos recebidos, em que os primeiros quatro, cinco, vá lá, seis anos de vida são de formação e os restantes de informação. Por outras palavras, neste início de existência fica determinada, grosso modo e à parte a herança genética, a forma como cada um será em termos de extroversão, liderança, perseverança e demais traços que constituem a personalidade, principalmente na sua vertente afetiva. Daí em diante a informação será acolhida numa estrutura identitária que a processa e acondiciona devidamente, à maneira de cada um.

Apesar de estarmos em constante formação, à medida que crescemos, vamo-nos tornando cada vez menos permeáveis a alterações de fundo e o mundo vai-se-nos afigurando como um lugar cada vez mais conhecido e controlável: já não encontramos surpresas em cada canto. Vamos diminuindo o tamanho do ponto de interrogação que paira sobre as nossas cabeças.

Este conhecimento do mundo pode construir-se de duas maneiras: ou aceitando pacificamente e como verdadeira a informação que nos vai chegando, ou assumindo uma postura questionadora sobre a forma como esse conhecimento do mundo nos é transmitida. A primeira é perigosa, porque depende muito da credibilidade das fontes de informação. A segunda é cautelosa, trabalhosa e progressiva, mas confere uma sabedoria mais abrangente.

No entanto, será que interessa conhecer os assuntos em profundidade? A resposta a esta pergunta remete-nos para o conforto e a segurança: há certos temas cujo conhecimento convém ficar pela rama para conferir conforto, segurança e ausência de conflito. Assumir posições ou ideias implica o dispêndio de energia que nem sempre estamos dispostos a empenhar. A quantidade de informação que ultrapasse certos limites, prejudica a nossa tranquilidade. Afinal somos apenas humanos. Exemplos disso encontram-se facilmente em torno de conceitos subjetivos ou relativos à crença. Não é fácil definir a felicidade à medida que se aprofunda esse conceito. Não é fácil falar de cristianismo quando a conversa resvala para os tempos da Inquisição.

A formação de cada um faz-se na direta proporção entre aquilo que se recebe do mundo e aquilo que se aceita. Uma postura acrítica é capaz de gerar mais "felicidade" do que uma postura cética. Mas também gera maior vulnerabilidade e dependência, na medida em que a informação utilizada é quase exclusivamente produzida no exterior da pessoa. Uma postura crítica constrói opiniões próprias, cria responsabilidades e dores de alma. Compromete a "felicidade" e a crença, ao mesmo tempo que protege de influências intencionadas. Discutir a política do país, o funcionamento das instituições, a organização e o funcionamento da sociedade pode ser arriscado, mesmo nos dias de "liberdade" que correm e, acima de tudo, pressupõe um olhar atento sobre o mundo que nos rodeia. Às vezes, é bem mais simples deixarmo-nos ficar no conforto que a ignorância nos dá.

 

Joel Cunha


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13.9.13

 

Uma senhora, cujos cabelos de prata denunciam a avançada idade, aproxima-se, timidamente, da Pessoa.

- Desculpe… não queria incomodar, mas… tenho tanta fome… será que não me poderia arranjar alguma coisinha para eu comprar o que comer?

Os seus modos são humildes, a sua indumentária simples mas elegante, e os seus cabelos exemplarmente penteados e apanhados atrás.

A Pessoa estremece enquanto vai conversando com a senhora sobre os porquês, os comos e as possíveis soluções para um problema que não se resolverá com o que quer que a Pessoa possa oferecer naquele momento. Estremece por pena, por culpa, por revolta, por um sentimento de atroz impotência.

Ao lado, Outra Pessoa assiste à conversa.

Entretanto, a Pessoa revolve a carteira. Depois, revolve o porta-moedas, deserto de notas e com poucos vestígios de moedas. E, por mais que vire, e revire entre talões e ganchos e outras insignificâncias, tudo o que consegue reunir são 50 cêntimo… que deposita, envergonhada, na mão da senhora.

- Não dá nem para uma sopa! – responde a senhora com franca desolação.

A senhora estabelece agora contacto com a Outra Pessoa, que ali está, desde o início em enfadado silêncio:

- Talvez me possa arranjar mais qualquer coisa?...

A Outra pessoa não estremece. Nem procura na carteira.

- Procure ajuda junto das Instituições criadas para o efeito. É para isso que pago os meus impostos.

A Outra Pessoa age de forma defensiva, imune a sentimentalismos baratos e gastos. Detesta o facilitismo que a sociedade permitiu criar para estas pessoas viverem às custas, não do Estado, mas de outras pessoas, que já cumprem o seu papel de cidadãos, e de que maneira!

E sacode a Pessoa com o intuito de a chamar à Razão e pôr termo a este encontro incómodo.

A Pessoa despede-se em silêncio da senhora, com um abraço forte e quente, daqueles que dava aos seus avós como prova de um afeto sem fim.

 

Muitos dias depois, a Pessoa ainda pensa na senhora, com um desejo secreto de a voltar a encontrar, desta vez com uma carteira mais recheada, ou, melhor ainda, de a encontrar melhor, salva da injustiça social a que não pôde escapar.

A Outra Pessoa nunca mais pensou na senhora, porque o Estado é que tem essa função, e a sua mente deve ocupar-se de assuntos úteis, práticos e com resultados e benefícios. É isso que fazem os vencedores.

 

Uma Pessoa e uma Outra Pessoa, ambas expostas ao mesmo evento, respondem de forma diferente. Porquê?

Porque a inFormação (ou, mais claramente, a Formação individual) é diferente.

Resulta de um percurso de vida, da absorção de inFormação recolhida e filtrada a partir de diversas fontes. É uma espécie de Cartão do Cidadão interno, que prima pela singularidade, pois cada pessoa é única.

Mas tem um certo grau de transmissibilidade, já que cada pessoa pode enriquecer a sua inFormação a partir do contacto com outras pessoas.

Ou, mais desafiante ainda, uma pessoa pode modificar a sua inFormação a qualquer momento, pondo em perspetiva inFormações dissociantes e fazendo prevalecer a melhor, mesmo que isso implique uma mudança radical na sua forma de ser, estar, pensar.

Evoluir.

    

Sandrapep


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10.9.13

 

Existe uma tendência generalizada, entre aqueles que buscam inFormação espiritual, em acumular conhecimento que às vezes é mais um obstáculo do que um foco de inspiração ou orientação.

Atualmente, muita da inFomação espiritual que encontramos nos livros ou nas redes sociais e nos seus mecanismos de divulgação, muitas das vezes transmite matéria distorcida na qual predomina a especulação de mentes férteis que buscam leitores “esfomeados” por teorias e hipóteses, para nutrir as suas mentes febris e em constante turbilhão. Desta forma o discernimento e a perceção da realidade são altamente distorcidos. O conhecimento genuíno não se baseia em conceitos fantásticos e improváveis, mas simem verdades Universaisque regem o nosso Planeta há milhões de anos.

Ao contrário do que parece, não se trata de acumular quantidades exorbitantes de inFormação, mas sim de assimilar tudo o que sucede na nossa vida, e isto requer discernimento e prática. Inconscientemente disfarçamos e ignoramos a nossa atual situação ao agirmos como meros observadores, críticos e acumuladores de informação; esta postura entra em confronto com o puro discernimento e inteligência espiritual. A chave do desenvolvimento espiritual não se foca só no consumo de Informação que alimenta o nosso intelecto e ego inferior, mas também em nutrir o nosso Ser.

O discernimento deve ser a bússola que indica o trajeto a seguir. Sem a prática espiritual, toda a inFormação que não se fundamente num processo de reflexão interior e meditação, causa confusão e desalento, que é onde muitos de nós nos encontramos. O progresso espiritual não depende de conceitos e teorias mas sim dum trabalho interior onde a perspetiva e visão da realidade são modificadas. A perseverança, o método e a prática, são essenciais para a transformação dos estados depressivos em que nos deixamos cair. Temos que agir neste momento, observando e analisando o que nos sombreia. A transmutação deste estado para uma conduta de bondade, amor, compaixão, solidariedade, leva-nos a uma transformação real do nosso interior; é neste ponto que podemos afirmar que nos encontramos no caminho espiritual. Disciplinar a mente e o ego não é tarefa fácil, mas este é o verdadeiro trabalho; não nos adianta acumular muita inFormação enquanto não adotarmos uma atitude dinâmica e firme no que realmente significa estar no caminho espiritual.

 

Joana Pereira (articulista convidada)


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6.9.13

 

Informação é uma coisa muito importante na vida das pessoas. É ela que tem o poder de mostrar o que nossos olhos não conseguem alcançar. Vital, ela muda os destinos de todos e o caminho do mundo.

Sabendo o que acontece no planeta, podemos tomar nossas decisões de maneira mais responsável. Mas tudo que muda nossa vida também tem seu preço. E no caso da informação, nós estamos pagando um preço alto demais.

Tanta informação, tanta comunicação, tantas coisas ditas e escritas, estão nos levando a exaustão. Mal podemos lidar com nossas guerras internas e todos os dias ficamos sabendo que países estão em guerra. Saber o que acontece em cada canto do planeta está cansando a mente de todos.

Qual seria o limite então? É válido querer saber de tudo, ou tentar ler sobre tudo? A nossa mente está preparada para tanta coisa?

Tudo chega a nós em segundos, mas será que podemos entender as coisas com tanta rapidez? E será que no fundo queremos entender?

Diante de tantas coisas sentimos nossa impotência. Do que adianta ler sobre quantas crianças morrem no mundo de fome, se não podemos ajudar a todas? Aquilo fica como uma espada no coração, não podemos ajudar nem podemos evitar todas as tragédias que acontecem neste planeta, mas, sem querer, aquilo tudo ali nos afeta. É nesse momento que informação demais pode ser considerada tóxica, faz tão mal a saúde como fumar ou beber.

E recebemos informação de todos os lados, a todas as horas. Somos a geração mais bem informada, nunca existiu uma como nós, com tanto acesso ao que acontece no mundo no instante que acontece. E estamos todos cansados. Vejo pessoas que não querem mais conversar nem argumentar, já escutaram demais. Conheço gente que entra em casa e quer ficar em silêncio, não tolera mais nenhum ruído.

É necessário estar bem informado, mas temos que filtrar de um modo ou outro, porque não temos mais como aguentar tantas coisas. Se informar é fundamental, é mais importante ainda não se deixar intoxicar, não somos máquinas que podem estar todo o dia gravando, nem orelhas de plástico que podem estar todo o dia escutando.

Somos seres humanos e precisamos de espaços, tempos e às vezes um pouco de distância deste mundo que gira sem parar. Ninguém precisa se informar sobre tudo para ser feliz, mas estar em paz é necessário para alcançar um pouco de tranquilidade. E se estamos no meio do barulho temos que sair um pouco, depende de nós abandonar tantas coisas que chegam as nossas mãos e dar um basta. Finalmente, ser feliz é o que viemos fazer aqui e ninguém veio até este mundo ler mil jornais todos os dias. Saber o que está acontecendo nem sempre muda nossa vida, mas ser feliz e estar tranquilo muda tudo, para melhor.

 

Iara De Dupont


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3.9.13

 

Estas linhas de reflexão livre e espontânea corporizam um retrato de experiências vividas em diferentes dimensões, com ênfase para a atividade de pesquisa, com intuito de contribuir para o enriquecimento do debate em torno deste conceito, antes, longe ser um tema acabado é um constructo em estado latente e constante evolução.

A reflexão objectiva, perceber o ponto de convergência e o grau de relacionamente causístico entre conceitos largamente aplicados e semânticos, tais são informação, formação e conhecimento. E a verdade, qual o seu posicionamento nessa trindade? A ciência como o instrumento racional da humanidade; qual o seu contributo neste debate? Estas e outras questões são as vertentes que irão orientar este percurso de análise imperfeito, diga-se, por deixar de fora algumas lides interessantes e imprescindíveis como a filosofia que deveria ocupar um lugar de destaque neste e outros debates, e ainda outros campos universais que queiram reivindicar a hegemonia deste(s) conceito(s).

Não poderia iniciar este artigo sem reconhecer que a informação é matéria-prima bruta da formação, ressalvando que o conhecimento resulta do processamento da informação através da inteligência - capacidade ou estado natural do ser humano quando pontifica a racionalidade, sempre que este conhecimento possa ser comprovado numa realidade e contexto próprio, tornando-o universalmente aceite.

O principal delivery da formação é o conhecimento, o denominador comum das diferenças resultantes da liberdade intelectual. Sem pôr em causa a democracia, o conhecimento é elemento central na mediação das dissidências através da emergência de consensos, ponto de inflexão para o almejado desenvolvimento intelectual. A condição primordial para a capitalização do conhecimento é a operacionalização de uma plataforma de geração e transferência livre de conhecimento. A este nível, a gestão do conhecimento figura como uma disciplina da gestão catalizadora do processo de reprodução, geração e disseminação do conhecimento. A vitalidade do conhecimento reside na sua ampla divulgação socorrendo-se das facilidades trazidas pelas TIC, onde a maior proeza dos agentes desse processo reside na participação ativa na advocacia e aplicação prática do conhecimento, este último estágio afigura-se crucial para a sua validação e retroalimentação em função do imprescendível feedback que obtém-se da interacção com as outras pessoas.

A consolidação da formação é um itinerário de longo prazo que consubstancia-se no compromisso com a descoberta, com a verdade que sendo ela infinita incita a renovação da formação, em ato contínuo proclama a independência relativamente aos hábitos e costumes até então vigente, ou até no limiar o conhecimento natural que pode não se configurar necessariamente em dogma.

A busca da verdade deve ser um ato contínuo, nunca um ato isolado, uma forma de ser e de estar. Esse comportamento enceta a rutura do (1) status quo, (2) da indiferença perante fatos e (3) da ingorância ou negação de sua própria existência. A intrusão da rocha é em si um ato de descoberta na crença de encontrar-se outra formação natural que não seja a litosfera, o inconformismo no seu ponto mais alto.

Se considerarmos que o conformismo não impulsiona o alcance da verdade genuina, então importa diferenciar duas dimensões ou estados do homo sapiens sapiens: aquele que detém quantidade ou qualidade de informação. Claramente a quantidade de informação não é sustentável a longo prazo, avaliado pela utilidade prática no processo de tomada de decisão. O elemento diferenciador destes dois estágios de desenvolvimento intelectual com impacto a nível comportamental do indivíduo é a maturidade da inteligência, que atua como filtro de retenção da qualidade de informação formando uma pessoa com ideias e crenças próprias, daí a preciosidade do capital intelectual ser um recurso único e diferenciador.

 

António Sendi (articulista convidado)


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Não podia concordar mais. Muito grata pelo comentá...
Dinheiro compra uma cama, mas não o sono...Compra ...
Caro Eurico,O cenário descrito neste artigo enquad...
Grande artigo, que enquadra-se com a nossa realida...
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