10.9.14

 

Gostava de acordar amanhã e respirar fundo, como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Gostava de já não me sentir triste e vazia, incapaz de entender as mais pequenas nuances deste enredo. Gostava de ser parva todos os dias, quase tanto como dou graças a Deus por não o ser. Gostava de passar incólume pela tua sombra e seguir adiante no planeta dos sucedâneos do amor, acreditando piamente que as migalhas são o nirvana e que os sentimentos estão permanentemente em saldo. Maldita educação essa que retira a honestidade do cardápio e a substitui pela incongruência e pelo lugar – tristemente – comum.

Gostava que não me tivesses vendido o príncipe perfeito (por gestos, palavras e confissões) e uma determinação voraz em resgatar o amor da tua vida, a tua alma gémea, se não fazes a mais pálida ideia do que isso significa. Gostava que percebesses que o teu amor nunca me feriu. Magoaram-me as meias verdades e as meias entregas, seres capaz de mentir nos meus olhos acerca das coisas mais banais. Tomei-te por um homem extraordinário mas não é esse que escolhes ser agora e, não jogares limpo, é aquilo que me dilacera. Isso e não me deixares partir, mas já não depende de ti, sabes? Não quero mais esta meia coisa. Não te odeio mas também não te quero por perto. Vive a tua vida, bebe das fontes que tiveres que beber. Desaprende esses processos mentais em que te atas, mesmo que a tua mãe, os teus amigos e o barbeiro te digam que tudo tem um prazo de validade. Não lhes dês ouvidos, a menos que também te ensinem a fazê-lo com honestidade. Ser honesto a tempo inteiro é um fardo diabólico: limita o número de admiradores, fere sensibilidades de calcanhar, molda o círculo social mas também depura a capacidade de ação e acarinha a essência. Experimenta. Vais ver que não dói nada. E, no dia em que souberes exatamente do que estou a falar, vais agradecer eu ter-te impedido de fazer mais estragos nesta peça dramática que podia, afinal, ter sido a história de amor das nossas vidas.

Quanto a mim, depois de vários atos, saio de cena. Preciso muito de acreditar que o amor da minha vida ainda está por vir e que não é um projeto de pessoa adorável, presa no corpo de um tipo cuja alma tem mais buracos que um coador. Sabes o que é mais irónico? Partilhá-los-ia todos contigo, seguir-te-ia até ao outro lado do globo, sem vacilar, por inteiro, sem data de regresso, mas a solidão acompanhada é a pior das companheiras de jornada. E os sucedâneos, a mim, caem-me mal.

Uma vez disseste-me que eu era a única pessoa cem por cento honesta com quem havias estado. Quem me dera poder dizer o mesmo a teu respeito… E agora que me deixaste à deriva, digo-te adeus e resgato-me a ti. Quem te resgatará de ti próprio?

 

Alexandra Vaz

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 09:00  Comentar

Pesquisar
 
Destaque

 

Porque às vezes é bom falar.

Equipa

> Alexandra Vaz

> Cidália Carvalho

> Ermelinda Macedo

> Fernando Couto

> Inês Ramos

> Jorge Saraiva

> José Azevedo

> Maria João Enes

> Marisa Fernandes

> Rui Duarte

> Sara Silva

> Sónia Abrantes

> Teresa Teixeira

Setembro 2014
D
S
T
Q
Q
S
S

1
2
3
4
5
6

7
8
9
11
13

14
16
18
20

21
23
25
27

28
30


Arquivo
2019:

 J F M A M J J A S O N D


2018:

 J F M A M J J A S O N D


2017:

 J F M A M J J A S O N D


2016:

 J F M A M J J A S O N D


2015:

 J F M A M J J A S O N D


2014:

 J F M A M J J A S O N D


2013:

 J F M A M J J A S O N D


2012:

 J F M A M J J A S O N D


2011:

 J F M A M J J A S O N D


2010:

 J F M A M J J A S O N D


2009:

 J F M A M J J A S O N D


2008:

 J F M A M J J A S O N D


Comentários recentes
gostei muito do tema artigo inspirado com sabedori...
Não podia concordar mais. Muito grata pelo comentá...
Dinheiro compra uma cama, mas não o sono...Compra ...
Caro Eurico,O cenário descrito neste artigo enquad...
Grande artigo, que enquadra-se com a nossa realida...
Presenças
Ligações