15.9.14

 

“O melhor presente que um pai pode oferecer ao seu filho, é educação”, terei ouvido há bastantes anos atrás e nessa altura duvidei do seu alcance, não pela idoneidade do emissor, mas sim pela força circunstancial, minha ignorância, limitação concetual e até mesmo ingenuidade. Nos dias que correm, percebo a importância deste investimento estratégico para a humanidade. Esta informação, vinda de forma fria, erudita e segura, soou mais a um conselho do que a uma repreensão ou castigo. Como duvidar desta velha máxima se, mais tarde vim a saber que a autoria deste pensamento é atribuída ao maior defensor do satyagraha, ativista indiano e pensador Mahatma Gandhi?

Na altura obedeci e conservei esta orientação estratégica, a par de tantas outras que a complementavam e cedo pude perceber o alcance desta mensagem, a intenção e exigência contratual implícita a este quadro, como condição suficiente e necessária para se manter um equilíbrio social são entre ambos.

“Se alguém está hoje sentado à sombra de uma árvore, é porque alguém, tempos atrás, plantou a árvore ali”, Warren Buffett, notável e erudito investidor financeiro, salienta a eficácia da educação como um sacrifício que proporciona rendimentos equivalentes e superiores a longo prazo. Educar é o processo de transmitir os valores absorvidos ao mundo em seu redor, para os seres animados e inanimados, a forma como contemplamos e cuidamos de nós, do nosso semelhante, dos seres vivos em geral e da natureza, num ato contínuo do exercício da cidadania, em cumprimento da nossa obrigação moral de dar em troca ao mundo aquilo que dele recebemos. Só dessa forma estaremos a contribuir para a criação de riqueza social perpétua, mutuamente vantajosa, num exercício de empreendedorismo social (assistência + lucro), num vasto movimento altruísta e solidário de emancipação da nossa cidadania. Afinal, quando educamos aprendemos ao dobro e o feedback torna-nos homens novos, preparados para os desafios do amanhã, quebramos as barreiras da aprendizagem e o status quo.

Posicionando-se como um dos pilares sociais críticos de edificação de uma sociedade próspera, a par da saúde, a educação joga papel relevante na formação do Homem, sobretudo na disseminação de valores e atributos como sejam know-how, know-why, saber ser, saber estar e acima de tudo saber reconhecer que nada sabe e que o conhecimento é infinito e linguagem universal da verdade.

Todos nós partimos involuntariamente de um estado bruto, mais a nossa predisposição para a socialização, onde recebemos valores de um conjunto de pessoas e experiências adquiridas em diversos contextos que nos interpelam ao longo da vida. Dependendo da atratividade e destino de cada um, os valores são discriminadamente direcionados do lado da oferta ou da procura, resultando em marcas profundas e distintas, daí a diversidade acentuada entre as pessoas que é catalisada pelas influências que elas sofrem, tornando-as elemento único.

O poder da educação, exercido através da comunicação e exteriorização de suas ideias, é uma das ferramentas mais importantes para a socialização num mundo cada vez mais globalizado e industrializado, um verdadeiro passaporte com visto tácito para inserção em qualquer geografia.

No plano mais arrojado, posiciona-se a educação plena, que é uma mescla de conteúdos religiosos, científicos, filosóficos e sagacidade, distribuídos funcionalmente com ponderações distintas consoante a matriz relacional dos fatores do lado do educador e educando. Este conforto permite, para além de ser portador de um certificado de formação, adquirir um estatuto de role model, um líder sem título, inspirador e disseminador de boas práticas.

Em contraposição destaca-se, pela negativa, a figura de presente envenenado: um sistema de educação parco em valores ideológicos, sem estímulos para a criatividade e autodescoberta, com recompensas desproporcionais ao mérito, que impedem o espírito empreendedor e a descoberta do mundo novo, excessivo protecionismo e concessão de subsídios que negligenciam as fragilidades internas e capacidade de autocontrolo e sustentabilidade a longo prazo. Estes vícios podem defraudar todos os esforços que possam estar a ser encetados com vista à construção e consolidação de uma sociedade de conhecimento.

 

António Sendi

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 09:00  Comentar

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