Historicamente o termo estigma, criado na Antiga Grécia, refere-se a marcas físicas aplicadas no corpo, com as quais se pretendia evidenciar alguma coisa negativa sobre o estatuto moral de quem as possuía. Goffman (1988) diz-nos que estas marcas eram feitas com cortes ou com fogo e atestavam que o portador era escravo, criminoso ou traidor, indicando grupos excluídos socialmente com um status social desfavorecido e “avisavam” a existência de um escravo, de um criminoso, de uma pessoa cujo contacto deveria ser evitado.
Atualmente o termo estigma é usado com o sentido original, porém, de uma forma mais ampla, marcando a própria existência de uma forma pejorativa. É uma combinação de opiniões estereotipadas, atitudes prejudiciais e comportamentos discriminatórios em relação a outros grupos, resultando na redução de oportunidades de vida para aqueles que são desvalorizados.
Goffman (1988) explica que a sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas, ao mesmo tempo que determina quais os atributos considerados comuns e naturais para os membros de cada uma dessas categorias, formando ambientes sociais que determinam as categorias das pessoas a eles pertencentes. Quando um estranho é apresentado a essas pessoas, podem surgir evidências de que ele tem um atributo ou característica que o torna diferente (estigma) que constitui uma discrepância entre a identidade social virtual e a identidade social real, deixando de se considerar um elemento comum para ser considerado uma pessoa diminuída. Embora o estranho possa apresentar atributos diferentes, o termo estigma só é usado para referir um atributo profundamente negativo, depreciativo.
Ainda Goffman (1988) categoriza o estigma em três grupos: i) as abominações do corpo - as várias deformidades físicas; ii) os defeitos de carácter individual (entendidos como vontade fraca, crenças falsas e rígidas, desonestidade, doença mental, prisão, vício, alcoolismo, homossexualidade, desemprego, tentativas de suicídio e comportamento político radical) e; iii) os estigmas tribais de raça, nação e religião. Todos estes atributos são uma caraterística diferente e podem impor-se à atenção e afastar ou destruir a possibilidade de dirigir a mesma atenção para outros atributos.
Atitudes negativas dirigidas a algumas (muitas) pessoas são muito comuns e constituem a maior barreira ao contacto e convívio sociais.
Mas…
Todos os dias me encontro com pessoas cuja vida tem uma “banda sonora diferente”. A banda sonora é, com certeza, também diferente da minha. O que nos une é o facto de sermos humanos; humanos com marcas diferentes. A diferença (marca) é “apenas” a riqueza do nosso mundo!
Ermelinda Macedo