No princípio, na barriga da mãe, não temos conhecimento de nada, não temos dúvidas, não temos medo de nada. Estamos seguros.
Logo a seguir começamos a experimentar sensações novas, a começar pelo choro inicial, que nem sempre conseguimos enquadrar de imediato ou a prazo. Apanhamos sustos, precisamos do conforto e do aconchego da mãe, dos que nos são próximos, que nós conhecemos e em quem confiamos, para acalmar e nos sentirmos seguros.
Basta, tantas vezes, antes mesmo de uma palavra ou de um gesto de carinho, uma troca de olhares. O que não acontece quando é de noite ou por qualquer motivo está escuro e, por isso, não vemos o que nos rodeia.
Ganhamos medo do escuro. [expressão interessante esta, utilizada no contexto do racismo, quando vinda de um ariano...]
Diria, assim, que o racismo é um pré-conceito ancestral que se instala e cresce com base na incompreensão, na falta de conhecimento, que gera medo ou, pelo menos, insegurança. Pode basear-se em sentimentos de superioridade ou de inferioridade, mas tem como consequência determinante a falta de aceitação da diferença, de tal modo que mesmo quando se conhece e convive dia-a-dia com os diferentes, seja em sociedades resultantes de uma miscigenação secular, seja pela globalização que a facilidade de viajar, a televisão, a Internet proporcionam, mesmo assim continua a existir racismo, xenofobia, discriminação com bases étnicas ou religiosas.
Aparentemente estamos todos em contacto uns com os outros, já não estamos isolados, podemos compreender-nos, aceitando-nos a partir da diferença; na realidade esta será apenas uma camada superficial, translúcida e fina, mas resistente como a casca da cebola, mantendo-se o preconceito nuclear.
Continua o desconhecimento, a incompreensão, o medo do escuro, talvez menos disseminado, mas igualmente gerador de conflitos e de afastamentos.
Há que acender a luz de todos os lados, contribuir para erradicar a sombra, onde se instala o preconceito.
Jorge Saraiva