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Foto: Beach Handstands - Lucy Toner

 

O dinheiro há muito que deixou de ser um mero instrumento ao serviço das trocas comerciais. É, numa das suas maiores definições, um agente de saúde mental. Salvo raras exceções, o bem-estar económico anda de braço dado com o bem-estar psicológico. O dinheiro não é só a possibilidade de aceder a bens ou a serviços. É o poder que essa possibilidade nos confere, é a liberdade de lhes aceder. Esta forma de poder e de liberdade coaduna-se lindamente com a mais moderna expressão de saúde mental.

A educação económica começa cedo. Somos treinados para a aquisição e coleção de dinheiro para que, mais tarde, saibamos e possamos competir em sociedade. Nada contra a oferta de brinquedos e a sua exibição junto de outras crianças; nada contra o método da semanada ou da mesada desde tenra idade. Mas tudo contra a questão de fundo: uma sociedade não deveria assentar os seus alicerces na densa areia da competição. Os enredos dessa competição determinam o nosso comportamento económico e, consequentemente, limitam a qualidade da nossa saúde mental.

Imaginar uma sociedade sem dinheiro ou quaisquer outros artefactos que o substituam, ou seja, um lugar onde as trocas comerciais se façam não em nome da necessidade mas antes da boa vontade, em que a educação económica assente desde cedo na ajuda ao outro, é imaginar um mundo resguardado de nichos de poder, livre de competição e de doença mental.

A razão base da constituição das sociedades é a possibilidade de nos auxiliarmos uns aos outros pela proximidade: as minhas competências são úteis aos outros e as dos outros são-me igualmente úteis. Devo estar disponível, já que escolhi viver em sociedade, para oferecer as minhas qualidades a quem se cruze comigo e delas necessite. No entanto, dou por mim a vendê-las e a comprar as dos outros. Chegamos a uma configuração social em que as necessidades de cada um já não são o despertar de uma consciência coletiva de interajuda, mas antes uma oportunidade de negócio. E não me parece que a coisa venha a tomar outro rumo, pelo menos enquanto endeusarmos o dinheiro como o garante da nossa saúde mental.

Uma sociedade sem dinheiro teria que retirar melhor partido dos recursos existentes, nomeadamente dos recursos humanos que gravitassem nela. Teria que providenciar pela sustentabilidade das sociedades circunvizinhas. Teria que cuidar mais e melhor dos seus. Aboliria as classes sociais, as diferenças de poder e a ganância. Uma sociedade sem dinheiro trabalharia inteira e determinadamente para o mesmo fim: para o fortalecimento dos laços entre as pessoas.

Mas não, calcorreamos caminhos cada vez mais intrincados para a conservação da individualidade e do capitalismo. O dinheiro parece exercer um fascínio hipnótico nas pessoas: encontram-se novos métodos para desenterrar dinheiro e, ao mesmo tempo, novas fórmulas para separar o lorpa do seu pecúlio. Sim, porque o sistema mantém-se à conta do máximo lucro, não do estritamente necessário.

Quase toda a história da humanidade contempla a existência de dinheiro. Mal largámos as barbatanas, institucionalizámos de imediato a prostituição e o dinheiro. E daí até hoje, pouco ou nada evoluímos.

Não pretendo fazer aqui qualquer apologia à anarquia ou ao comunismo: quero apenas lembrar que a sociedade compõe-se de pessoas, pessoas pensantes que fazem escolhas e que essas escolhas não têm necessariamente que andar ao sabor de objetivos economicistas. Para o bem da conservação do planeta, das sociedades e da saúde mental das pessoas, reflitamos sobre a importância do dinheiro e do lugar que queremos habitar daqui em diante. Procuremos a felicidade no sítio certo.

 

Joel Cunha

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 08:00  Comentar

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