Foto: Turkish Old Men – Vera Kratochvil
São histórias dentro da história. Histórias de sonhar, histórias de viver, histórias de imaginar. Sem dúvida, histórias para contar… e para ouvir… com atenção… enquanto é tempo… enquanto há tempo! “As pessoas são sacos vivos com histórias dentro”. Histórias que estão marcadas nos rostos enrugados, nas mãos cansadas, no corpo lento, mas ainda com vontade de se manter ativo. Histórias que, não raras vezes, consciente ou inconscientemente, negligenciamos e marginalizamos, sem saber o porquê, ou, talvez, apenas por puro egoísmo de não lhes dispensarmos o tempo que mereciam. “Velhos são os trapos”. Não! Velhos são os velhos, com todo o direito e mérito por ter atingido esse posto! Sem medo de o ser, sem receio da palavra, ou da conotação que a velhice traz consigo, carregando a herança de anos de experiência. Lidamos mal com a velhice, marginalizamos os nossos velhos. Fazemo-los sentir à margem e esquecemo-nos da sua maior riqueza: a sabedoria e experiência de vida, que - vejam só! - apenas advém precisamente com a idade.
A juventude acaba por ser sobrevalorizada, especialmente numa sociedade em constante inovação e evolução, e cada vez mais individualista. No entanto, juventude não é sinónimo de uma maior vitalidade ou de um saber viver melhor. Há por certo muitas histórias (daquelas de ouvir, enquanto é tempo, enquanto há tempo) de velhos mais ativos e felizes do que os próprios jovens. Julgando eu, mas nada como ouvi-los para saber, que esse saber viver está nas pequenas coisas. A experiência e/ou a velhice dá-lhes essa audácia, não é? Que ainda não temos, ou pelo menos que não é tão apurada.
A velhice não tem de ser algo categorizado como mau. O seu principal valor reflete-se na sabedoria e na experiência acumulada dos olhos que, se calhar, já não veem tão bem, mas que sabem sentir como ninguém. E é essa experiência e sabedoria que os faz viver e escolher melhor e saber. Na roda-viva que é a vida atualmente, onde somos assombrados com o imediato, o novo, o fugaz, sabe bem abrandar o passo e aproveitar o bom da vida, as tais pequenas coisas. E quem melhor do que eles para nos ensinar isso?! Sejam velhos, sem medo de o assumir, sem negar a velhice. Sejam orgulhosamente maduros e experientes e ensinem-nos, aos pouquinhos, a viver. Do alto do vosso posto, obtido com mérito, partilhem connosco a vossa sabedoria, as vossas histórias. Ah, as histórias… As histórias de contar merecem sempre ser partilhadas. As vossas são: partilhem-nas.
Sandra Sousa