Por marginalização entendemos, quase sempre, o sentido alargado da palavra, isto é, o preconceito e a indiferença a que determinado indivíduo, ou determinado grupo, com certas caraterísticas diferentes da sociedade, ou do contexto onde se insere, está sujeito, sendo olhado de soslaio e provocando reações, desde a indiferença até à agressão.
Acontece é que nos esquecemos, ou então não nos apercebemos, daquela marginalização que infligimos a nós próprios. É esta que abordo neste artigo.
A automarginalização reveste-se de vários feitios: impedimo-nos de ir a alguns sítios ou de estar com amigos, porque estamos gordos e todos vão dizer uma piadola, ou porque é demasiado frustrante aparecer nos eventos sociais – mesmo com amigos de sempre – sem uma companhia, ou porque a porcaria do acne chama mais a atenção do que a Casa da Música iluminada. Às vezes, simplesmente não vamos a sítio nenhum porque não queremos que olhem para nós. Porque não queremos que olhem para o nada que nos sentimos. Porque nos anulamos.
Marginalizamos a nossa inteligência e o nosso potencial de seres pensantes, também quando não intervimos em conversas por achar que a nossa opinião não é válida e que os outros é que são brilhantes, ou quando não lutamos por melhores condições no trabalho, por medo de sermos ainda mais ostracizados, mas não nos mexemos para procurar outro emprego, porque a crise-aperta-e-não-se-sabe-o-dia-de-amanhã.
Nos relacionamentos, o cenário não é muito diferente. Muitas vezes mantemo-nos no mesmo grupo de amigos que faz de nós o saco de risada e que feitas as contas nem sequer são assim tão amigos, mas são a companhia que temos e de outro modo, não teríamos com quem conviver, porque fazer novas amizades é complicado.
A automarginalização também acontece nos relacionamentos que se querem amorosos. Quantas vezes um dos elementos do casal sabe que não é amado pelo outro; ao contrário, é visto com indiferença, desprezado, humilhado, traído até, mas deixa-se ficar, mesmo sabendo que cada vez vai ser pior, porque os cacos, às vezes nem com cola – daquela mesmo muito boa – se encaixam. Porque o medo de ficar sozinho é avassalador quando comparado com um relacionamento sem amor ou consideração. E nessa situação, ao menos, vai-se tendo alguma companhia, mais não seja para sair, e é tão complicado o mundo dos afetos… quem é que garante que o próximo, se houver próximo, vai ser melhor.
E então? Chegou a esta parte do artigo sem se identificar com nenhum destes exemplos? Olhe que eu identifico-me com alguns.
Fazemos assim, se não se identifica com nada do que falo aqui, dou-lhe os meus sinceros parabéns. Se eventualmente se revê em qualquer uma destas imagens, ou se consegue através destes exemplos identificar a sua automarginalização (ora aí está um termo bastante feio), então, nesse caso, dou-lhe a minha mão. Acredite que não está sozinho.
Ana Martins