Foto: Crazy Hair – Petr Kratochvil
Por estes dias sou quem não sei que sou, não me reconheço de todo. Nem a pensar, nem a agir, nem a ser, nem a fazer que sou.
Quero sair deste corpo e desta cabeça, desta carcaça que me representa e apreciar quão louca estou, ou se sempre fui. Se estou viva até, ou se morri e fiquei num limbo alucinante. Se mereço o inferno ou, depois de uma boa e robusta passagem pelo purgatório, posso ousar esperar algo mais.
Se hoje me serrassem a meio a cabeça, em vez de sair alguma coisa, aconselho vivamente a utilização de um microscópio para ver uma obra completa do Maurits Cornelis Escher, com vários “eus” a subir e a descer e a entrar e sair por parte nenhuma. E a ajudar, obras de Miró, Dali e Rothko a pairar por toda a parte, num espaço onde nada é imóvel e tudo é desprovido de sentido.
É do tipo “onde esta Wally”, sendo que o Wally sou eu e todos são o Wally e nenhum é. E agora. Agora há aquelas partes de mim a querer recuar no tempo, outras a querer avançar, outras basicamente a querer queimar tudo e renascer. Outras só mesmo a querer queimar tudo. Parece a Sagração da Primavera mas no infinito, sem princípio nem fim.
Por acaso sempre achei que ia acabar louca e parece que se calhar, aqui cheguei. Internem-me por favor.
Depois há uma mesma figurinha lá no meio, também eu, a querer resistir e sair e renascer, totalmente nova, pura, sem defeitos, consciente porém dos erros do passado e sem falsas modéstias nem orgulhos parvalhões e descabidos. Sem máscaras. Estamos provavelmente no campo da mitologia.
Esqueçam tudo o que escrevi. Esqueçam tudo. Não estou a pedir ajuda. Já não sei se existo, e vocês também não.
Laura Palmer