Foto: Head - Gerd Altmann
Há dias os seus corpos também estavam cá.
Os seus corpos tornavam-nos existentes.
Os seus corpos também comunicavam connosco.
Tornaram-se inexistentes, porque o cérebro e o coração pararam.
Tornaram-se invisíveis, porque ninguém consegue recuperar e ver o corpo.
O corpo desaparece…
É muito importante ter o corpo para a despedida, mas o corpo não volta; é irreversível.
Há, no entanto, outra dimensão que não desaparece. Não é reversível, nem irreversível, porque nunca desaparece do nosso perimundo.
Envolve-nos diariamente sem grande esforço. As fotos ficam; as recordações não documentadas ficam.
Ficam connosco com muita intensidade.
Às vezes rimos e choramos sozinhos com lembranças muito reais.
Vivemos momentos imaginados, com desfechos prováveis baseados nesta dimensão que não desaparece.
Seria assim, teria este desfecho se estes momentos fossem vividos com estas pessoas cujo corpo já não está cá, dizemos nós.
Acompanham-nos como se o corpo fosse reversível e, deste modo, visível.
Na morte, só o corpo é irreversível… só as funções vitais são irreversíveis…
Há uma dimensão que fica…
Ermelinda Macedo