Foto: Cutter-Man - Melanie
“Oh tempo, volta p’ra trás,
traz-me tudo o que eu perdi.
Tem pena e dá-me a vida,
a vida que eu já vivi.”
Tenho para mim que tudo na vida é como as moedas, com cara e coroa, verso e reverso. Tenho para mim, também, que o tudo e o nada, nos extremos, se tocam, se podem confundir, assim como o sempre e o nunca... Mal comparado, será quase que como o conceito chinês do yin e do yang.
Portanto, nem tudo na vida é recuperável, reparável. A morte, para irmos ao limite, põe fim à vida, não tem retorno. É irreversível.
É como se fizesse, para aquela vida, parar a contagem do tempo. Inexoravelmente.
O que está feito, está feito. O que não se fez, ou fez, o que não se disse, ou disse, já não se vai a tempo de corrigir, sequer de tentá-lo.
Assim, quando nas nossas vidas atingimos a maturidade, diria que será quando tomamos consciência, que é quando percebemos realmente que a vida tem um fim, um término, que o mundo não é nosso, a partir daí será a altura para aplicarmos o conceito de vida “um dia de cada vez” ou, dito de outro modo, viver cada dia, cada momento, como se fossem o último.
Postas assim as coisas, o conceito de irreversível toma outros contornos. As nossas atitudes serão com certeza diferentes, talvez sejamos mais exigentes connosco próprios, respeitemos mais os outros, ao sabermos que o que fazemos, o que adiamos fazer, o que dizemos ou o que deixamos de dizer, pode não ter tempo para ser corrigido, pode não haver amanhã.
Pois, na realidade, o tempo não volta para trás. Há coisas que são definitivas. Qualquer coisa o pode ser.
Jorge Saraiva