30.10.17

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Foto: Pierre - Salviad

 

Há deficiências e deficiências.

Há as físicas. E as mentais. São um triste presente da genética ou do ato do nascimento. Os “premiados” não escolheram, nem tão pouco podem devolver ou guardar num armário esta oferta indesejada.

 

Mas depois há um certo tipo de deficiência… que é do tipo intelectual. É aquela deficiência que se percebe quando se identificam certos comportamentos, ou quando se desenvolve um diálogo. É uma tacanhez, daquelas que limitam a visão; um egoísmo que inibe o desenvolvimento de valores nobres, uma arrogância que esbate qualquer outra qualidade que a pessoa pudesse ostentar.

Tenho pena, mesmo muita pena (talvez não seja pena…) destes deficientes. Porque estes, ao contrário dos primeiros, não têm consciência da deficiência da qual são portadores. E por isso não podem, jamais, tentar superar-se, melhorar, mitigar essa deficiência. Vistas curtas.

 

Sandrapep

 

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27.10.17

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Foto: Wheelchair - LonelyTaws

 

Cruzei-me com o Armando, o José Pedro, o Justino e o Rui por motivos profissionais. Conheci-os na altura em que estava a escrever uma reportagem especial sobre o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (3 de dezembro). Até então, não tinha tido contacto com pessoas portadoras de algum tipo de deficiência.

 

E perguntar-se-ão vocês quem eles são. São pessoas com caraterísticas como cada ser humano. O Armando era, na altura, deputado na Assembleia Municipal da terra onde vivia; ficou surdo com 13 anos. O José Pedro, um jovem de 24 anos, é amistoso e bem-disposto, com um espírito positivo contagiante e uma vontade de aprender que não lhe cabia no peito; tem paralisia cerebral. O Justino é voluntário e depois de uma fase menos boa deu uma oportunidade a si próprio e aprendeu a lidar com a cegueira que apareceu aos 28 anos. O Rui é escritor, psicólogo e ativista na área da deficiência; está numa cadeira de rodas.

Partilharam comigo as suas histórias. Enquanto os ouvia, ou quando li os seus testemunhos, vi neles o meu próprio reflexo. Vi neles um ser humano, com objetivos de vida, com sonhos, com medos, com esperanças, com utopias, com dúvidas, com incertezas… tal como cada um de nós. Não vi seres especiais, não vi heróis, não vi coitadinhos, não vi diferenças. Vi alguém com vontade de viver e não apenas de sobreviver, sendo aquilo que é sem direito a julgamentos ou discriminações. Como o Rui afirmou: “Não somos nada sozinhos. O que somos, somos porque temos alguém à nossa volta. E ninguém merece ser dispensado de ser quem é”.

Mas nem todos parecemos olhar para estes seres humanos como iguais. E é por isso que precisamos de um dia especial: para lembrarmos e demonstrarmos que somos todos iguais. Tal como o Armando disse: “A sociedade tem um dia para as pessoas com deficiência, mas esquece-se delas no resto dos 364 dias”. Valerá sempre a pena informar, sensibilizar e fazer perceber que ser diferente é bom. Porque a diferença não é o problema. É o poder que cada um de nós tem para compreendermos os outros e, simultaneamente, compreendermo-nos a nós próprios. Afinal, todos somos diferentes. Importante é sabermos viver com as nossas diferenças porque no fim do dia todos temos algo em comum: somos seres humanos. “Todas as pessoas têm deficiências. Aquilo que separa a normalidade da anormalidade é mais fino que uma folha de papel”, declarou o Armando.

 

Deixo aqui um excerto do texto que o Rui escreveu naquela altura para o jornal. Porque melhor do que falar sobre eles, só mesmo ouvi-los, ou lê-los, na primeira pessoa:

“É urgente que nos pare de tratar como heróis ou coitadinhos. Estas duas vidas que nos atribuem são de mentira, não prestam e não as queremos. Compreenda que por trabalharmos, rirmos, praticarmos desporto, namorarmos (etc.) não faz de nós heróis. Ressalvo que são poucos os que conseguem fazer tudo isso, mas asseguro-lhe, não são heróis. E muito menos a maioria que não tem essa oportunidade é composta por coitadinhos. São humanos, tanto os que considera heróis, como os que considera coitadinhos. Humanos. Como você, que coitadinho precisa criar heróis para provar que há vidas piores do que a sua. Não estamos dispostos a isso.”.

 

Sandra Sousa

 

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23.10.17

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Foto: Parents and children - Kisss

 

(Sei de Anjos que, apesar de condenados a viver na Terra, nunca perdem as asas nem a inocência)

 

Deficiência: não há modo “soft” de colocar a coisa - a palavra grita-nos, sibilante, o seu significado perfeitamente lato e negativista. E ninguém se furta à sibilina carga de preconceito que ela acarreta, sobretudo pelo medo que todos temos que um filho, um descendente, alguma criança, enfim, do nosso círculo mais estreito de afetos, nos nasça com um qualquer grau de imperfeição ou deformação física ou mental. Ninguém. Todos os pais, todos os parentes de futuros pais, mais ou menos serenamente, contornam esse receio, nem que seja pelo lado mais doce, confiante e otimista: “Menino ou menina?” – “O que se quer é que venha perfeitinho...”

E saudável. E que a mãe tenha uma hora pequenina. O resto não importa. Que venha perfeitinho, é o que todos queremos.

 

“E o que é a perfeição?”

Perfeição, no seu sentido imperfeitamente real e positivista, é ter as proporções consideradas normais e todos os órgãos no seu devido lugar e a exercer com precisão as funções físicas e mentais para que Deus as concebeu, quando nos programou.

Perfeição, no seu sentido mais transcendente, é nascer com a capacidade de se exceder. De ir além. De ver mais longe, mais fundo. De amar melhor. De superar barreiras. De vencer guerras e preconceitos. De ser forte. De sobreviver. De ser feliz.

Ser perfeito é dar-se por inteiro, em inocência e candura, à paixão por quem lhe aceita a imperfeição. Ser perfeito é ter nos olhos um amor desmedido e toda a confiança do mundo em quem lhe ampara a deficiência.

Ser perfeito é receber nos braços a Dor, e transformá-la em Amor. Ser perfeito é ter a ventura de descobrir o quanto é forte, o quanto é poderoso, o quanto é superior a todos os preconceitos do mundo.

 

Não é a todos, que é dada a oportunidade de descobrir o tesouro de Fé e de Força, escondido em si desde que nasceu - e o Amor, todos sabemos, não reconhece imperfeições nem deficiências físicas. Basta que conheçamos uma mãe “perfeita” ou um pai “perfeito” de um filho “imperfeito”. Basta que perguntemos. Basta que observemos: Há uma bênção maior, que os nossos olhos não reconhecem, mas que o nosso coração sente: não existe “deficiência”, para quem ama, existe apenas “diferença”. Não existem seres incapazes, existem seres especiais. Excecionais. E infinitamente capazes de amar além de todos os conceitos humanamente reconhecidos.

 

Teresa Teixeira

 

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20.10.17

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Foto: Human-rights - Darwin Laganzon

 

A Declaração Universal dos Direitos Humanos prevê a igualdade de direitos para toda e qualquer pessoa, independentemente da sua condição ou proveniência. Cada linha dos seus artigos nasceu do comprometimento de vários Estados membros em cooperação com a Organização das Nações Unidas, proclamando o respeito universal e efetivo dos direitos do Homem e das suas liberdades fundamentais, sejam estas económicas, políticas ou sociais.

 

A minha amiga Susana, mulher extraordinária, teria muito a dizer sobre esta coisa poética da igualdade de acesso e de direitos das pessoas ditas portadoras de deficiência. Nas algumas décadas que já viveu, sofreu na pele a injustiça de uma sociedade patologicamente afetada, impregnada de preconceito, incapaz de ver para lá da sua própria perceção dos outros e das coisas. Se ela gostaria de poder fazer tudo que o comum mortal faz, sem depender de ninguém e ser, simplesmente, quem nasceu para ser? Não tenho dúvidas que sim, tão pouco a tremenda lucidez da Susana me permitiria dizer o contrário. Ninguém, para além dela e dos que partilham desafios semelhantes, sabe o que é viver segregado, aparentemente incluído mas permanentemente em luta, pelo simples direito a existir com toda a dignidade que merece e com toda a coragem que lhe corre nas veias – podia narrar, horas a fio, as muitas coisas fantásticas que ela já fez e que muitos de nós, sem qualquer (aparente) limitação, jamais fariam. Podia descrever, sem ter de florear nem um bocadinho, a força com que se bate todos os dias da sua vida por coisas que tomamos como garantidas e que não valorizamos sequer.

Pode até parecer que é à sua aparente condição física a que me remeto mas, na realidade, não pretendo sequer perder-me nesses pormenores. Quanto mais a conheci, mais me distanciei do que a tornava diferente e mais nitidamente entendi o conceito da verdadeira deficiência. Claramente, não era aquilo que a colocava numa cadeira de rodas mas sim o que lhe era oferecido, numa base regular, pelos que deviam protegê-la. A verdadeira deficiência estava nos que “se envergonhavam” de ir com ela à rua (e lho diziam, com estas mesmas palavras), dos que lhe lembravam todas as coisas que ela não podia fazer, dos que, partilhando o seu sangue, a rotulavam com uma designação que, afinal, nunca lhe pertenceu. Como deve ter doído, mais do que qualquer limitação física (sobretudo, aos olhos dos outros), a maldade dos “seus”, tão cristã (leia-se: levada a cabo por atos, palavras e omissões). Como pode um Ser feito de amor ser um alvo tão fácil?

Todavia, nesta verdade dolorosa, feita de muitos momentos de revolta, não sintam pena da Susana. No seu anonimato, ironicamente, e apesar dos muitos desafios que ainda enfrenta, já viveu mais do que muitos de nós viveram ou viverão. Ser feliz não é a ausência de obstáculos, de problemas, de grandes montanhas a transpor, mas uma escolha, obstinada e diária de, apesar de tudo isso, fazer o melhor de cada dia. É assim que a Susana vive a vida. Há pelo menos quinze anos, testemunhei a audácia desta corajosa mulher que saiu da casa materna solteira e voltou casada, contra tudo e contra todos; e é, desde então, amada, por um marido com um M enorme, por tudo aquilo que ela realmente é: linda, inteligente, criativa, ousada, partilhando, sempre, um sorriso belíssimo com quem tem o privilégio de a conhecer. Levante a mão quem conheceu o amor da sua vida, quem abraça um ser que ama e que lhe devolve amor, todos os dias, durante pelo menos década e meia. Incondicionalmente. Não tenham pena de quem nos lembra os nossos medos, as nossas limitações. Tenham esperança. Desejem, no mínimo, o mesmo.

 

Quero acreditar que caminhamos para um dia de verdadeira equidade, para uma sociedade que inclua todos os seus cidadãos, com dignidade, com respeito, valorizando o que cada ser humano tem de extraordinário. Vejo nas pequenas coisas grandes vitórias e, parte de mim, rejubila. A outra parte, lembra a “minha” Susana, as outras e outros tantos seres como ela, e o seu (ainda demasiado intenso) sofrimento pela inacessibilidade criada, sobretudo, pelas mentes pequenas com demasiado poder. Pelas vozes que os calam, gritando palavras como “verdade, justiça, progresso, inclusão, igualdade”, desprovidas de qualquer significado. Vozes que silenciam os únicos com legitimidade para falar, os que sentem na pele as tais “mudanças miraculosas apregoadas e que colocam todo o cidadão a viver uma vidinha sã e feliz” e que gritariam, sim, a angústia da ignorância alheia, a falta de meios, de condições, de corações preparados e de mãos dadas com a ciência, a acutilância de quem se acha imune ao sofrimento. “Está tudo uma maravilha, está cada vez melhor”, dizem. Outros que não quem de direito, note-se.

Reitero: quero acreditar que caminhamos num sentido mais positivo e humano mas sei que, enquanto andamos para trás e para a frente, regidos por leis bacocas e inviáveis, muitos sofrem. Enquanto me sento para redigir estas linhas, perde-se o potencial humano de tanta gente extraordinária neste planeta. Perde a sociedade que não percebe a singularidade da Susana, e de todos aqueles que considera diferentes, matando o seu potencial. Enquanto se luta por pôr em prática as verdadeiras leis da Equidade, talvez valha a pena investir na intervenção junto dos ditos normais para quem a normatividade é, afinal, uma muleta frágil e sustentada por uma visão limitada e desadaptativa, baseada no medo e na ignorância. São esses os verdadeiros deficientes: os cruéis, os preconceituosos, os críticos de tudo e de todos, os patologicamente insanos, aqueles para quem a Declaração Universal dos Direitos Humanos é apenas uma chalaça de folhetim. É esta a verdadeira deficiência da sociedade. É aqui que tudo começa. É aqui, e em cada um de nós, que deve terminar.

Desculpa, querida Susana, por viveres num mundo que ainda não te merece e que, mesmo assim, tornas tão mais belo pela tua simples existência. Espero, um dia, sermos dignos de gente tão especial quanto tu.

 

Alexandra Vaz

 

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16.10.17

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Foto: Adult - Pexels

 

Diretamente, ainda que titubeando, para as conclusões.

Confesso que não sei, não estou absolutamente certo, mas devo ter algumas, possivelmente tenho, é quase certo que sim. Estou a falar de deficiências. A minha sorte é que as minhas, várias, não são relevadas pela sociedade, aqui e agora, e passo como que incólume. Vejo mal, faltam-me alguns dentes, uso próteses para compensar. Não sei dar cambalhotas...

Vivo numa época e numa sociedade muito sensível à norma, à padronização e, também, nem sei se por contradição se por concomitância, à salvaguarda da diferença.

Talvez seja o caldo de cultura para a emergência do politicamente correto. Há os deficientes físicos, intelectuais, psicossociais, ai de quem os chame de coitadinhos, mas ao mesmo tempo e para as mesmíssimas gentes, a tentação do eufemismo impera. Não há cegos, mas invisuais, não há aleijados, também não fica bem verbalizar o termo “louco”.

 

Complicado. Contraditório? Pois, é a vida. Cairia o Carmo e a Trindade, naqueles unanimismos momentâneos e passageiros, se alguém usasse publicamente a denominação “inválidos”. Apesar de algumas pessoas com deficiência não terem condições de se valer a si próprios.

As coisas são o que são, de acordo com o tempo e com o lugar. Sempre.

Talvez valha a pena recorrer ao que, se bem penso, já vem desde a antiga e democrática Atenas - tratar o que é igual como igual e o que é diferente de forma diferente.

Nem mais, nem menos. Adequado, com aceitação, sem necessidade de eufemismos, que, diria, não são mais do que uma forma de dizer coitadinhos... dos inválidos.

Nada de coitadinhos. Voto contra!

 

Jorge Saraiva

 

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13.10.17

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Foto: Courage - Tânia Dimas

 

A ideia de deficiência está relacionada, geralmente, com as situações de quem sofre de doença, lesão ou limitação corporal. É compreendida ainda, por alguns, como um facto de má-sorte pessoal.

Todavia, atualmente, são cada vez mais os casos de pessoas que não se resignam com a sua condição de deficiente. Na verdade, todos os dias assistimos a verdadeiros exemplos de superação de dificuldades, de deficiências e de limitações físicas de quem não se conforma com os infortúnios da sua própria vida. Com frequência, ocorrem verdadeiros casos de superação, alguns deles em que os portadores de alguma deficiência, transcendendo-se na procura de objetivos, conseguem concretizar sonhos. Por isso, até são consagrados como heróis pela Sociedade que não lhes fica indiferente e que não lhes regateia compreensão e solidariedade.

 

A deficiência já não é um “bicho-de-sete-cabeças” de há anos atrás e muito menos um problema trágico. A evolução da Sociedade, a nível do seu ordenamento jurídico, ao impor direitos sociais especiais, e do Mundo Científico, no aperfeiçoamento de técnicas de reabilitação, muito tem contribuído para derrubar o preconceito da deficiência. De notar, contudo, que a superação de uma limitação física ou insuficiência de qualquer tipo não depende apenas das condições favoráveis que existam na Comunidade em que se está inserido e dos apoios e carinhos de familiares e de amigos que sejam dispensados à pessoa afetada pela deficiência; mais do que isso, será mister, mesmo indispensável, que a pessoa portadora dessas limitações acredite que é possível transcender-se, superar barreiras e dificuldades, rumo ao objetivo “sonhado”. A superação consiste nisso mesmo: exceder os seus próprios limites, ir mais além, afirmar-se na vida e de viver, se possível, sem dependências. A força de vontade interior, mental e intelectual, qual segunda natureza que é, na motivação da luta diária e persistente, constituirá seguramente a grande fonte inspiradora para quem não se resigna com o seu infortúnio.

 

José Azevedo

 

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9.10.17

Lesson - Beate.jpg

Foto: Lesson - Beate

 

Poderia dizer que é um tema que me diz muito e sobre o qual consigo falar, mas não é…

Penso que qualquer professor ou profissional de educação deverá estar atento a toda e qualquer forma de aprender, que vem com cada uma das crianças com que nos encontramos. Se com elas trazem caraterísticas não comuns, doenças raras, deficiências, é com esses aspetos todos que deveremos tentar lidar, tal como tentamos quando arranjamos estratégias para lidar com uma criança que faz birras todos os dias.

Sobre deficiências apenas tenho a considerar que são alterações ao padrão tido como normal mas, tendo em conta que em cada casa há uma realidade diferente, com ou sem deficiência, todos temos algo fora da normalidade.

 

Aqui o problema (sim, quando se fala em deficiência pensa-se sempre em problema, talvez porque dá mais trabalho e não é processo padrão) é a própria palavra que transmite a ideia de minoria, necessidade, desvio. Esta palavra é pesada e cada vez menos utilizada pelo medo de ofender alguém. Ofensa será deixarmos de fazer o que é suposto, apenas porque há situações que saem do que é previsto, deixarmos de ser quem somos porque somos diferentes, sermos tratados como mais um apenas, ou sermos tratados como extraterrestres quando, na verdade, o bom senso deverá imperar.

Gosto de tratar as coisas pelos nomes sem ofender ninguém, desde tenra idade, será assim tão difícil?

 

Sónia Abrantes

 

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6.10.17

Paracycling - Mucorales.jpg

Foto: Paracycling - Mucorales

 

Não tenho dúvidas da capacidade e do à vontade com que muitos lidam e falam da deficiência. Fazem-no com naturalidade, com conhecimento e sem erros científicos e humanos. Não é o meu caso. Sinto-me ignorante e, estou muito agradecida às forças do universo, ou a qualquer outra força ou energia que me têm poupado a ter de viver e lidar com a deficiência, tal como a minha limitação a entende – o que não está dentro da normalidade. O desconhecimento desta realidade faz de mim um ser inábil no relacionamento com a pessoa com deficiência. Confesso a minha dificuldade em comportar-me e, por incorreto que seja, a verdade é que a diferença torna-me curiosa em relação às causas e aos efeitos. Satisfazer a curiosidade constrange-me com receio de causar algum tipo de sofrimento a quem se sinta observado. O resultado revela-se numa falsa indiferença e numa leviana normalidade da minha parte.

 

Essa dificuldade estende-se também à escrita. Não vejo beleza na condição de deficiente e isso rouba-me inspiração para romancear ou fantasiar à volta do tema. Escrever sobre o quê? Que sei eu do mundo que alguns criam e no qual se refugiam sem deixarem entrar nem mesmo os que lhes estão mais próximos? Que capacidade tenho de entender frases e ideias desconexas, mas com sentido para quem as profere? Que sei eu da força que anima amputados a bater recordes, a melhorarem marcas até aos degraus do pódio? E a que sabe a medalha conquistada? De que sentidos se servem e que processos desenvolvem aqueles que, privados de visão e audição, dançam com tanta delicadeza que nos levam para lá da realidade?

Apesar de nada saber e quase tudo me ser desconhecido, talvez por isso mesmo, espanto-me com os resilientes, os que estabelecem objetivos e lutam pela sua concretização e os que não se deixam atingir na sua dignidade quando lhes devolvem uma imagem de incapazes. A superação das pessoas com deficiência, se outras razões não houvessem, deveria eliminar estigmas e preconceitos. Mas que sei eu? Deficiência minha que nada sei.

 

Cidália Carvalho

 

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4.10.17

CrinabelTeatro.jpg

Foto: Crinabel Teatro

 

Ao entrar na sala de espetáculo, já os atores estavam no palco à nossa espera. De um lado, um grupo de atores sentado, do outro, um ator de pé de frente para o público. Começou o espetáculo. Percebi que a atenção e a concentração tinham de se manter ao longo do espetáculo. E assim foi.

Ao meu lado estava uma pessoa que, tal como eu, tinha experiência de conviver com uma pessoa com deficiência e sentir a sua vida. A Hanna (a menina que procurava o pai) parecia-se tanto com ela! Percebi que a pessoa que estava ao meu lado estava entalada... eu também, confesso. Os atores assumem de forma muito autêntica as personagens de um texto muito intenso.

 

Não é o texto, em si mesmo, de Gonçalo M. Tavares, que me traz a escrever estas linhas. É o encontro desse texto com o projeto Crinabel Teatro. O espetáculo e cada ator são preciosidades. A intensidade com que os atores interpretam as personagens e dizem o texto torna o pensamento e a representação que alguns “normais” têm da deficiência desinteressantes e nada construtivos. Este espetáculo ensina-nos a ver de forma mais cuidada os pormenores mais escondidos presentes no texto, no desempenho dos atores e, acima de tudo, na vida. Há algo a acontecer no palco que nos fascina e nos prende à cadeira. De facto, há mais vida para além do “normal” que nos rodeia. Uma vida preciosa! Parabéns a todo/as!

 

Ermelinda Macedo

 

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2.10.17

Face-LizFranceliBratzArdais.jpg

Foto: Face – Liz Franceli Bratz Ardais

 

Um sonho materializado por vontade paternal. Uma rapariga feita mulher, com toda a existência pela frente. Assim é a Su.

A personificação da alegria, contagiando todos em seu redor. Ela é igualmente um ás a nomear os artistas que ouve na rádio, adora tudo o que é cor-de-rosa e não dispensa os passeios à beira-mar, nem a companhia da família. Claro que também é teimosa e gosta de decidir as refeições de cada dia, mas no seu todo é o melhor presente da sua vida.

E é nisso em que se centram primariamente quando pensam na filha. No que ela trouxe às suas vidas, nas bênçãos que a acompanham, nas aventuras que se somam. Nos risos, nas memórias, nas partilhas. E não nas (in)capacidades de que é portadora. Porque há muito mais além dessa categorização. Um amor imenso, uma ternura que não acaba e também uma certa paciência.

 

Se o dicionário de língua portuguesa nos diz que a deficiência é um substantivo feminino equivalente a falta, imperfeição, ela, pronome pessoal singular feminino, venceu as falhas com outras conquistas, tornando-se verdadeiramente única.

E se olharmos além das faculdades mentais e físicas, ou mesmo incluindo-as, não seremos todos, afinal, portadores de algum grau ou tipo de deficiência? Não seremos todos dotados de faltas e de imperfeições?

É o que nos torna humanos. É o que nos une como família de uma mesma espécie. E nessa consideração ligamo-nos uns aos outros, reconhecendo limites e vencendo outros, tal como a Su o faz.

 

Sara Silva

 

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