19.2.18

Homeless - Leroy Skalstad.jpg

Foto: Homeless - Leroy Skalstad

 

Do momento de luz ao expoente da criação, tornamo-nos corpo, mas também alma. Agregamos experiências, lições, erros, histórias, gostos e desagrados, na edificação de um “Eu” distinto. E é nessa passagem do tempo que alicerçamos as nossas raízes. Prendemo-nos ao meio que nos envolve, ao conforto construído, ao que e a quem nos faz bem.

Se as fundações se abalam, é o ser inteiro que ampara o golpe, carregando as marcas e as feridas pelo longo e turbulento caminho que se estenderá.

Assim é o desígnio dos espíritos jovens abandonados pela sorte. Dos que crescem nas ruas, sem mão que afague, que proteja. Sem poiso que lhes garanta a segurança do amanhã, porque o próprio presente já é uma incógnita. Será que virá? Será que a vida persistirá?

A inocência do sorriso e da crença é-lhes roubada à partida, sem possibilidade de resgate de uma infância sumida. Os ruídos beligerantes atravessam ritmadamente a atmosfera e é no vazio propiciado pelo silêncio que se expressam os clamores sofridos. Os que ecoam num cântico aflitivo e os que são abafados pela dormência de um ser que já não sente, um ser que já não quer sentir.

Dos gritos às barbáries, perderam-se nas debilidades do ser humano. Desvaneceu o seu encanto, a esperança, a alegria… Miragens de uma vida alternativa, de uma outra realidade que não a vigente.

 

São órfãos da humanidade, o produto das massas de gente oca que os abandonou em terras impronunciáveis, submergíveis face às superficialidades da contemporaneidade.

Não os esqueçamos. Não os abandonemos. Pela memória e ação se fará a diferença quanto aos que serão o nosso futuro, enquanto (se) sucede o agora. E aí seremos todos membros da família humana.

 

Sara Silva

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:30  Comentar

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