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A dor escondida, por se ter perdido alguém na vida, é sempre a mais profunda, a mais dolorosa e a que mais nos consome. Quando persiste e se torna irreversível, vai-nos corroendo por dentro e por fora, traçando um penoso e longo caminho de suplício em que são predominantes a amargura e o sofrimento. É um sofrimento atroz que mina o corpo e a alma e que só poderá encontrar algum alívio no mundo dos afetos.
Nesse mundo de afeição, carinho e ternura, observando o que nos rodeia e percebendo então quem necessita de nós, será possível, mediante uma partilha de afetos, mitigar o sofrimento ou, até mesmo, transformar a dor em algo sublime para a vida, abraçando, por exemplo, uma causa social no exercício de uma atividade cívica, o que poderá constituir até uma forma de realização pessoal.
A dedicação e a disponibilidade para com os outros, tentando ir sempre mais além do que seria comum na dádiva dos afetos, poderão contribuir, como iluminação do interior do nosso ser, para suavizar o próprio sofrimento.
O desperdício da vida está naquilo que não damos e que, na maioria das vezes, está perfeitamente ao nosso alcance para podermos dar, ou seja, dar mais de nós, quer mediante ações de índole social, quer no âmbito de relações afetuosas e fraternas.
Na vida, a dor é, muitas vezes inevitável, mas é possível diminuí-la através de um simples dar e receber, numa relação de troca de afetos.
José Azevedo