Podia escrever sobre o que de bom existe, ou me faz sorrir.
Podia escrever sobre o que me faz ficar triste.
Mas neste momento só me apetece escrever sobre o vazio que sinto, aqui, dentro de mim. Sinto um frio, físico, dentro do meu peito. Acho que é mesmo na alma. Não sei. Neste momento não sei nada, só sei que tenho este vazio. Preenchê-lo com quê? Com um abraço? Uma festa na cara e uma mão pelo cabelo?
Não… não me imagino a deixar ninguém fazer-me isso. Não quero que entrem neste meu espaço, neste que é o meu sítio. Não quero ninguém que me roube a respiração, o sono, a fome. Quero ser só eu, auto-suficiente. Sei que me estou a habituar demais a esta solidão, mas gosto da minha companhia, não sinto falta de mais ninguém.
Quero estar aqui, no meu canto, só pôr a cabeça de fora quando me apetecer, só ouvir, estar ou fazer, quando cá dentro tiver vontade.
E não tenho. Neste momento a vontade é nula. Neste instante nem os lanches ao domingo em casa da avó me fazem sair daqui.
Faço as coisas por obrigação, faço tudo sem vontade.
Quero o sol. Quero os dias grandes, quero sentir na cara uma festa quente, que me faça abrir um sorriso. Preciso disso para viver…
Quero sair daqui, para um sítio onde ninguém me conheça, onde ninguém precise de mim. Quero sentir que também posso precisar de alguém. Preciso de precisar. Preciso de ter alguém que me pergunte como correu o meu dia, as minhas consultas, que se preocupe. Em quem e com quem eu possa ser eu, sem muros, tijolos, pedras e afins.
Sinto que estou a passar pela vida, em vez de ser ela a passar por mim. Preciso de me sentir viva outra vez. Acordar de manhã com vontade de sair da cama, sorriso aberto nos lábios e vida a correr-me nas veias.
Já dizia o outro:
"As ínfimas partículas que me fazem sentem-se tristes hoje, pelo todo de que fazem parte...".
Filipa Pouzada
Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 18:37  Comentar