8.12.09


 


Logo no início de Novembro todos contavam, de forma decrescente, a chegada do Natal e ela, sem saber, começava, de uma forma crescente, a contar o início do fim. Nenhum Natal poderá apagar, ou fazer esquecer, as feridas que se abriram no seu coração e que esconde na sua alma.

Estranhamente, não havia qualquer alusão ao Natal que se aproximava; a ausência por completo de ornamentações augurava um mau presságio. Era uma casa que se esmerava por requintadamente anunciar a chegada do Natal, com a sua colossal árvore decorada com Pais Natal de peluche, anjos, bonecos de neve, peúgas e peuguinhas, o presépio e as velas típicas da época. Nesse ano havia apenas o silêncio a enfeitar cada corredor e a rechear sítios que, em anos anteriores, eram preenchidos com arranjos vermelhos, verdes e dourados.

Sair à rua e ver as luzes, as montras decoradas, prendas para uns, presentes para outros, prioridades absolutas na vida de muitos, ouvir o Jingle Bells que ecoava por todo o lado, feria violentamente o seu espírito.

 

Foi-se aproximando o Natal e com ele a preparação, para que nada faltasse no momento prenunciado e previsto. Na última noite preparou o desfecho, indo de loja em loja comprar os seus últimos presentes… aqueles que lhe tinham sido antecipadamente pedidos: a camisa de noite quentinha, o robe, não esquecer os seus amigos de todos os momentos, os carapins, a manta para se aquecer e assim poder fingir um estado de um sono perpétuo e repousante.

Sem saber como, sorria, agradecia os simpáticos embrulhos que faziam, afinal era Natal…

 

No dia 24 desembrulhou prenda a prenda, peça a peça e foi-lhe descrevendo as cores, os modelos, os locais onde as tinha adquirido… Quando terminou, mesmo sabendo que já não era ouvida, disse-lhe: “- Estás linda! Sempre consegui dar-te mais estas prendas de Natal.”.

No dia 25 via-se por todas as ruas, papel de embrulho rasgado, fitas a esvoaçar com o vento, a levantar voo. As crianças brincavam e deliciavam-se, com os seus desejos satisfeitos, com a generosidade do Pai Natal. Pequenos aglomerados de pessoas reuniam-se à porta de alguém para iniciarem os festejos próprios da época. Naquele Natal não teve almoço… apenas um rasgão na sua alma que a impediu de, durante muitos anos, entender o significado e a importância do Natal.

Naquele Natal despediu-se, disse adeus, a uma das pessoas que mais amou… Naquele Natal enterrou o corpo daquela que lhe deu vida e a ensinou a amar. Naquele Natal disse-lhe, pela última vez na sua presença: “- Amo-te mamã.”.

Ainda hoje as luzes de Natal a agridem, a mania das prendas enlouquece-a, os falsos votos manifestados numa solidariedade fictícia enraivecem-na.

 

Mas dois “duendes” fizeram magia com o seu coração e com a sua alma. Para ela, o Natal é agora o sorriso e a euforia daqueles a quem deu vida. Espera que eles nunca deixem de dizer-lhe: “- Amo-te mamã, feliz Natal para ti.”, com um brilho nos olhos.

 

Susana Cabral

 
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De Susana Cabral a 24 de Dezembro de 2009 às 01:28
Olá Vera

Para alem de agradecer o carinhoso comentário que deixas-te, gostaria que soubesses que fiquei muito sensibilizada com as tuas palavras. :)
Um Natal muito feliz para ti e um óptimo , excelente magnifico ano novo.

Beijos carinhosos

De Vera Abreu a 23 de Dezembro de 2009 às 14:22
Olá Susana...

É com muito carinho que deixo aqui esta minha primeira marca pessoal.
Dou-lhe os meus Parabéns, o sentimento com que escreve todas as palavras é transmitido no acto da leitura.
Quantos de nós não partilham esse mesmo sentimento? É a lei da vida,que nem sempre aceitamos que seja a mais justa.
Mas, tudo o que é limitado é belo, e tudo o que é belo vive para sempre em Nós!!
Desejos de um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo , cheio de inspiração, para continuar a deixar por aqui os testemunhos e aprendizagens de uma Vida.
E assim se me despeço, com um grande beijinho, um Xi Coração e uma frase que me inspira:

"Ler é uma forma de sentir...Deixar de ler é perder parte da nossa sensibilidade...!"


Vera Abreu

De Susana Cabral a 22 de Dezembro de 2009 às 01:19
Rui
É verdade passou já algum tempo e realmente o sentimento persiste e bem sei o quanto aqueles que me querem bem gostariam de poder, recuar, mudar e curar...
As memórias de como era e pensar de como poderia ser inevitavelmente provoca-me um aperto no coração, felizmente, que para além dos milagrosos duendes " que tiveram a capacidade de voltar a tornar o Natal especial...
Não é possível mudar nem recuar... a cura vai sendo possível quando se tem alguém especial ao nosso lado...


Um beijo do tamanho do mundo com amor do tamanho do Universo

De Rui a 22 de Dezembro de 2009 às 00:52
15 anos e o sentimento persiste...
Que bom seria se se pudesse recuar, mudar e curar...
Para ti , inquestionavelmente mais, do que para todos os outros.
Para nós, os outros ( aqueles que que te rodeiam e te querem bem), mais do que bastante.
já imaginaste como seria??? Lembras-te de como era???
Continua a investir nos teus "duendes", sempre e cada vez mais, pois são os únicos que hoje e amanhã, te amarão incondicionalmente...
Feliz Natal Susana
Rui

De Susana Cabral a 21 de Dezembro de 2009 às 17:50
Olá LM

Existem alturas, como o Natal que deixam de ter o significado que deveriam ter por acontecimentos que nos marcam, por momentos dolorosos ou por pessoas que perdemos.
Estas alturas acabam por passar e o que fica são todos os outros dias que passamos com os duendes " e pessoas fantásticas que se cruzam no nosso caminho e tornam os dias mais alegres.

Beijinhos fofinhos a abanar os narizinhos.

De LM a 21 de Dezembro de 2009 às 16:53
Tenho a mesma opinião. De facto há pessoas que nos marcam e alturas como estas do ano deixam de ter o significado que tinham, por muito que tentemos evitar, passando a ser um dia como todos os outros. Mas... Existem sempre os "duendes", sejam eles quem forem, que nos fazem passar estes dias de uma mais alegre...

De Susana Cabral a 17 de Dezembro de 2009 às 23:59
:)


Sem duvida que o amor é o mais poderoso dos bálsamos , o mais forte dos elixires e tem capacidades curativas e cicatrizantes inigualáveis .
É bom ter pessoas por perto que de uma forma ou de outra conseguem sempre fazer o nosso coração sorrir......
Coraçõezinhos sorridentes

De Madrinha a 17 de Dezembro de 2009 às 23:21
não há lágrimas que nos afaguem a alma quando perdemos quem amamos... não há tempo que nos faça esquecer a dor... não há nada que nos prepare...
mas há o Amor! só o temos de aceitar, deixar que invada de novo o nosso coração, para que este deixe de sangrar e volte de novo a sorrir!

De Susana Cabral a 17 de Dezembro de 2009 às 00:55
Olá Carla

Todos os natais felizmente são sempre diferentes, como o sentimos na a alma e como o vivemos com o coração
E é bom, mesmo muito bom ter mais que dois corações que nos dão razões... para os próximos natais.
Corações ou razões, como preferires, também encontramos numa amizade que nos dá quando precisamos e que não pede quando precisa. Sabemos que não é preciso vir ou ser natal para que nos dê uma prenda.

Mais que muitos beijos

De carla ferreira a 17 de Dezembro de 2009 às 00:35
lindo....
todos os natais sao diferentes, uns mais frios outros mais quentes, uns mais tristes outros mais alegres.
um dia sem contar encontramos a razao em dois coraçoes que nao pedem, dao apenas....
como sempre entendo quando escreves ...

um xi!!!

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