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Quando me convidaram para abordar o tema família “através do pilar sexo”, pensei imediatamente na ligação entre estas duas palavras; não existe família (descendência) sem sexo, mas existe sexo sem família. Como é reconhecido, vivendo num país maioritariamente cristão, mais propriamente católico apostólico romano, o sexo é para se “fazer” dentro de portas com o respectivo cônjuge. Qualquer escapadela a esta norma será sancionada pela sociedade em geral (em princípio excluindo o grupo de amigos onde ainda vigora a sexualidade do caçador / recolector), e poderá ser também pelo próprio (devido aos seus valores e normas de conduta). Isto é válido para ambos os sexos. Contudo, nem todos os casais são casados (cônjuges) e nem todos são heterossexuais, não deixando por isso de constituir um núcleo familiar. Deste modo, evitarei falar em homem/mulher e o termo família será reduzido à sua expressão de casal.

 

Tal como qualquer outra necessidade, e por necessidade estou a abranger as emocionais, físicas, económicas etc., o sexo é efectivamente um pilar essencial. Já foi sobejamente demonstrado que a libido difere de indivíduo para indivíduo. Cada pessoa vive a sua sexualidade de forma independente, procurando o prazer através dos meios que o facilitam ou o concretizam. Assim sendo, o somatório dos desejos e pulsões de dois indivíduos diferentes têm de se “encontrar” num ponto de equilíbrio. Muitos casais conseguem-no, outros não. Sou da opinião (e estejam à vontade para discordar) que poucos são os casais que estão plenamente satisfeitos com a sua sexualidade. Isto porque a sexualidade não se resume ao sexo (acto em si). Digo isto porque a sexualidade é um constructo extremamente complicado até para o próprio. Dou-vos um exemplo: quantos de nós não nos sentimos já atraídos/excitados, por uma pessoa, um som, um cheiro, etc., que noutra circunstância/contexto não aconteceria? Por vezes reúnem-se um conjunto de factores que nos “ligam” (tradução livre do turn on) sem que tenhamos uma explicação racional para tal. Pois é… a sexualidade, por vezes, não pode nem deve ser racionalizada. No nosso íntimo, quantas vezes já confessámos “eu até pensei que não ia gostar disto”, ou “ nunca pensei que fosse tão bom”? Fica a demonstração que a sexualidade tem a capacidade de surpreender até a nós próprios. O que é bom! Muito bom mesmo! E é mau! Muito mau mesmo! Desta dicotomia entre o desejável e o concretizável surgem os conflitos e as frustrações (internas e externas). Deixando as internas para cada um, analisemos as externas, as do casal portanto. Num casal, o concretizável deverá impor-se ao desejável. Caso contrário, apenas e só se o desejável for desejado por ambos. Neste caso, estaremos no domínio da sexualidade satisfatória, sendo o limite da busca do prazer da responsabilidade dos dois, situação onde é minha opinião que não deverão existir limites na procura do prazer conjunto, para além da observância da liberdade e das leis do nosso estado de direito. Como referi no início, entendo que a grande maioria dos casais não vive uma sexualidade plenamente satisfatória. O recurso à prostituição prospera, o número de divórcios não pára de aumentar, a igreja católica admite que as instituições família e casamento estão em crise e começam a ser cada vez mais comuns e aceites as traições (exemplo recente o da esposa de um ministro da Irlanda). Claro que tudo não é culpa de uma sexualidade insatisfeita, mas esta tem efectivamente a sua quota-parte de responsabilidade.

 

Em resumo: a sexualidade é um pilar na vivência quotidiana do casal, enquanto que o sexo é o instrumento pelo qual o casal gera uma prole. A sexualidade é partilhada e complexa (apesar de muitas vezes não o parecer), enquanto é também particular e complexa. Uma não existe sem a outra mas ainda bem que todos temos um recanto onde podemos guardar as nossas fantasias, podendo partilhá-las com outro se assim o desejarmos.

 

Rui Duarte


 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 02:05  Comentar

De Liliana Pereira a 16 de Janeiro de 2010 às 04:07
Efectivamente o sexo é um pilar essencial do casal...Mas, ainda existe muito tabu à volta do tema sexo...infelizmente!... Quantos casais falam sobre a sua sexualidade?...Alguns estudos demonstram que existem muitos casais que sofrem de disfunções sexuais, quer sejam de origem física quer sejam de origem psicológica?...E comunicam ao parceiro o seu problema?E recorrem a ajuda especializada?A nao comunicação entre o casal gera entao conflitos e desconfortos internos que se reflecte também na relação do casal.Quantos casais comunicam ao parceiro as suas fantasias sexuais? Nao terao medo da nao aceitação do outro porque vê como sendo uma situação rara e desviante?
Assim, confirma-se a ideia de que "são poucos os casais que se encontram plenamente satisfeitos com a sua vida sexual"...
Por vezes, até mesmo uma ida a um ginecologista é evitada nao apenas por desconforto mas também por vergonha...
Acredito que o mundo esteja muito mecanizado e ainda muito direccionado para a religião em que o sexo apenas é concretizado de uma forma lá está como é referido no artigo "...o sexo é para se fazer.." e apenas entre conjuges , marido e mulhe.r ...Tudo o que fugir a essa norma, como casais homossexuais ou outras maneiras de exprimir o prazer sexual são vistos com maus olhos...Quantos homossexuais nao assumem a sua sexualidade com medo de represálias?Esperemos que quem sabe um dia este tabu seja quebrado...

De Aníbal V a 15 de Janeiro de 2010 às 19:35
Pensar no conservadorismo de costumes, em particular no campo sexual, como uma característica apenas dos Cristãos, é excessivamente redutor. Será, por exemplo, o Islão menos conservador? Todos sabemos que não. Há alguma religião que defenda a ousadia de costumes? Aníbal V

De Ana Teixeira a 15 de Janeiro de 2010 às 18:24
Ao longo dos tempos, temos verificado mudanças consideráveis nas mentalidades. No respeitante à questão da vivência sexual, o que outrora era considerado moralmente impróprio e até mesmo anti-natural por algumas sociedades mais conservadoras, regidas por rígidos ensinamentos cristãos, é hoje frequentemente aceite pela sociedade em geral.
Neste contexto, o comportamento sexual pode assumir diferentes formas e expressões, numa atitude mais livre de culpas, preconceitos e recriminações sociais, desde que a liberdade do outro seja sempre respeitada.

Concordo que a sexualidade é um dos pilares da vida do casal. A satisfação conjugal relaciona-se directamente com o grau de satisfação sexual, que é influenciado pelas aprendizagens, expectativas, atitudes e crenças de cada um dos membros do casal. Neste domínio, e sem querer descurar o factor biológico, podemos considerar que o maior órgão sexual é mesmo nosso cérebro, porque é ele que nos dita, sem que disso nos apercebamos, o que para cada um de nós é de facto estimulante, apetecível, e que cria as nossas próprias fantasias sexuais.
Não devemos no entanto esquecer que o nosso cérebro, e particularmente nesta área, é fortemente condicionado pelas grandes variações culturais nos consequentes padrões e estereótipos de beleza, nos comportamentos em geral e nomeadamente no sexual. Por exemplo, em algumas culturas, o facto de a mulher mostrar o rosto, pode ser considerado um acto fortemente provocante.

Relativamente à actividade sexual os estudos na área relatam que o aumento da frequência da mesma parece não estar directamente relacionado com o aumento de felicidade. Por outro lado, a qualidade da actividade sexual é essencial para manter o equilíbrio e bem-estar na família e poderemos dizer que, essa sim, parece estar directamente associada à felicidade.

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