Quando me lançaram o desafio de escrever um artigo, desta vez sobre a “Família no âmbito da Saúde”, confesso que não sabia muito bem o que dizer. Depois de largos minutos a olhar para a folha em branco, comecei a reflectir e a recordar algumas das famílias dos doentes que conheci desde que comecei a trabalhar como médica. De alguns, não me recordo do nome, apenas da face, da expressão, ou do olhar...
Recordo um casal de meia-idade. Ele estava na fase terminal de um cancro e ela passava dia e noite, sem descanso, à cabeceira da sua cama, com receio de não estar presente quando chegasse o momento final, para acompanhá-lo.
Recordo um senhor invisual. Vivia sozinho e tinha uma irmã com quem não falava há mais de 10 anos. Ele guardava religiosamente o papel com o seu número de telefone na carteira. Durante o internamento contactou-se a irmã e proporcionou-se o reencontro. Teve alta dois dias depois.
Recordo um casal de idosos. Ela tinha Demência de Alzheimer e ele, todos os dias, fazia questão de a vestir, pentear e maquilhar como se fosse para uma festa, porque ela sempre tinha gostado de estar bonita e arranjada.
Lembro-me do Sr. Machado. Andava sempre com um pequeno rádio, a pilhas, para ouvir os fados da Amália. No dia em que fez 90 anos, no hospital, vieram os filhos e os netos da França para lhe dar os parabéns. Faleceu no dia seguinte.
A Família participa activamente na Saúde dos seus membros. A doença e a possibilidade de perda tornam, muitas vezes, as relações familiares mais fortes, ou revelam outras que julgávamos não existirem.
Joana Gonçalves
Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 16:30  Comentar