A Mariana não foi ontem à escola, nem no dia anterior. Estranho. Pensei que estivesse doente e liguei para ela. Do outro lado da linha, um silêncio ensurdecedor: ninguém. No messenger, nada, absolutamente nada. E não, não era normal. Mesmo quando estávamos doentes, ficávamos sempre ligadas on-line. Havia sempre tanta coisa para contar: o rapaz giro que nos devolveu um sorriso, a professora de Matemática que exigia sempre mais de nós… Um dia na escola, para quem tem 15 anos, é mesmo uma eternidade, repleto dos acontecimentos mais importantes e decisivos das nossas vidas. Mas, e a Mariana?
“A Mariana partiu.” – disseram-me hoje os meus pais. Partiu? Para onde? Foi viajar e não me disse nada? Impossível! Nós partilhamos tudo… Até que, o peso da verdade imutável se abateu sobre mim. Senti-me esmagada e sem ar. A minha melhor amiga matou-se?!... O turbilhão de pensamentos embalados por emoções confusas tomou conta de mim. Como é que ela foi capaz de me abandonar? Eu, que preciso tanto da sua ajuda e do seu ombro sempre amigo. Que raio de amiga sou eu que não me apercebi de nada? Mas porque é que ela não me pediu ajuda? Porque é que não falou comigo? Oh… espera; será que até falou? Será que, quando dizia que estava farta de tudo e de todos, será que não estaria a exagerar, como eu pensei? Será que a tristeza que trazia nos olhos era mais intensa do que eu supus? Que culpa que eu sinto! E dói tanto! Quando a minha melhor amiga precisou mais de mim, eu não estava lá. Ou até podia estar, mas não estava atenta àquilo que era realmente importante. Tantas coisas que julguei, pensei, supus, sem nunca procurar a verdade. Tantas perguntas que ficaram por fazer e que agora me torturam. Mas agora é tarde, a Mariana já partiu…
Numa coisa tenho razão: a Mariana estava doente. Sim, sofria de solidão. E pela primeira vez na vida, sinto que ter razão é um vazio amargo e corrosivo. E de que serve… de que serve ter razão? Chega de perguntas… perdoa-me Mariana!
Liliana Jesus
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