20.5.11

 

O sentido da vida descobre-se nos momentos em que o coração quase pára. Breves segundos em que, após a batalha, se instala o silêncio que nos grita na alma, e tudo parece claro como água. “Dá-me tempo. Mais tempo. Mais vida.” Todavia, antes de avançar, há que dar sentido ao que ficou para trás.

Parar e olhar para trás é fazer um ponto da situação antes da caminhada em frente. É perceber que a vida tem de ser mais do que sobreviver, sob pena de se permanecer em estado bélico, o resto da existência. Sobrevive-se à violência física e psicológica. Sobrevive-se ao abuso camuflado e massacrante. Sobrevive-se ao terror da chantagem emocional. Sobrevive-se a doenças terríveis e dissimuladas, com nomes impronunciáveis. Sobrevive-se à falta de dinheiro, aos gritos, à dor. Sobrevive-se com mazelas, no corpo e na alma, mas sobrevive-se. Até ao dia em que cansa, apenas, sobreviver. Em que impera a necessidade de desmantelar as armas e deixar de temer sempre o pior. Em que urge assistir ao romper da aurora com alegria na alma, e esperança de que, a felicidade, seja o bálsamo de todas as dores. De batalha em batalha, pomo-nos à prova: cada vez que pensamos não poder mais, descobrimos que, afinal, ainda podemos. A força que vem de dentro parece crescer na mesma proporção do desafio. Podemos usá-la ou não… Podemos renunciar. Podemos baixar os braços e, simplesmente, desistir. Cansa lutar. Sem um sentido para as coisas, deixa de ter importância resgatar o dia seguinte. Se a vida, entretanto, nos ceifou a alma, o que caminha de nós é um invólucro vazio e putrefacto que, não sabendo para onde vai, qualquer caminho lhe serve. Segue ao acaso, alheio ao Sol que nasce todas as manhãs, alheio aos sorrisos e às maravilhas do mundo. Um pé atrás do outro. Sem directrizes.

 

Às vezes, no entanto, sem explicação racional, da maior das dores, emerge uma vontade incontrolável de viver em plenitude. De exorcizar esse sofrimento amando, sorrindo, abraçando, partilhando, cuidando; mesmo sabendo que não se foge ao inferno, ele passa é a viver dentro de nós. E, cada dia, se torna uma conquista que, de tão dura e acutilante, sabe mesmo bem vencer. Dizia Ortega y Gasset, “Eu sou eu e as minhas circunstâncias”. As circunstâncias, raramente as escolhemos, mas podemos escolher a forma como as encaramos, como reagimos a elas. O sentido da vida é muito mais do que um conceito estéril e filosófico. É a bússola orientadora. É a razão de todas as coisas. É o que nos salva da loucura quando a força nos falta. Perceber o sentido da vida é como ter livro de instruções, ainda que com algumas folhas em branco e páginas encriptadas.

 

Alexandra Vaz

 

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