Já ninguém quer apostar na continuidade. A palavra de ordem é mudar, mudar a todo o custo. Nem nos perguntamos se estamos bem como estamos, o que conta é que já estamos assim há demasiado tempo e está na altura de mudar.
Mudamos de guarda-roupa em cada estação, mudamos o corte de cabelo, mudamos de namorado, mudamos de casa, de carro, de ginásio e de dieta. Mudamos de governo, de emprego e de amigos do café. Mudamos de perfume e de gel de banho. Mudamos de supermercado e de lugar de estacionamento. Se pudéssemos, mudávamos também de família, por algum tempo que fosse, apenas para ver que diferente seria.
Mudamos de operador de telemóvel, mudamos a marca de detergente para a máquina, tentamos o descafeinado para logo voltar ao café. Não estamos bem, precisamos de mudar. Mudamos tudo, menos nós próprios. Nós continuamos exactamente iguais, na procura incessante da mudança.
Só não mudamos de planeta, porque ainda não possuímos a tecnologia. Mas em contrapartida mudámos o planeta e agora queremos mudá-lo de novo.
A sorte é que a lua vai mudando de fase e a primavera vai sucedendo ao inverno. Mas seria talvez mais divertido se pudéssemos mudar a alternância das estações do ano. Pôr o inverno logo a seguir ao verão, sem passar pelo outono.
“Já há muito tempo que não chove”, lamentam-se alguns. “Já chove há três dias. Já ninguém aguenta a chuva.”
Já ninguém aguenta nada. Já não nos aguentamos a nós próprios.
Teresa Moura (articulista convidada)