Não consigo situar-me emocionalmente, em pleno, em relação ao agora. Existe um quê de ambivalência com o mesmo, tal como acontece com as coisas que não são transparentes. O agora prende-se com o tempo e o conceito do mesmo. Com teorias infindáveis acerca de quanto dura, na realidade, um minuto. Um segundo. Uma fração desse tempo. Um agora é um agora num relógio em qualquer parte do planeta, mas um agora no sofrimento não é um agora na felicidade.
O agora acarreta uma certa dose de angústia, algo que deriva de duas suposições básicas:
Agora – “Estou bem” – “Que nunca acabe”
Agora – “Estou mal” – “ Que acabe depressa”
Curioso seria afirmar que este pensamento apenas surge quando acontece a consciencialização do momento corrente. E que significaria tal? Até ao surgimento desse pensamento a angústia seria inexistente? E isso acontece apenas quando estamos “bem”? Ou seja, quando estamos “mal”, a consciencialização do agora “que nunca acaba” está sempre presente e assim, a correspondente angústia?
O estar “mal”, no limite, transporta-nos para o crivo da psicopatologia. Em contacto com distúrbios ansiosos e depressivos o agora deriva, agora, de duas suposições básicas:
Agora – “Estou mais ou menos bem” – “Por favor que dure mais um pouco”
Agora – “Estou muito mal” – “Por favor que acabe depressa”
Neste caso, campo evidente de angústias e ansiedades, o potencial dano do agora será maior. Não existe qualquer relação de prazer com o momento – agora. No limite haverá um conforto derrotista do género “já foi pior que agora”.
Ok... e agora? Agora digo-vos que não é fácil trabalhar no agora, terapeuticamente falando. Não é fácil para o doente trabalhar a angústia do agora quando do futuro o vislumbre praticamente não existe. Contudo, como todos sabemos, depois do agora vem o depois. Ninguém consegue é garantir que nele não exista angústia.
Rui Duarte