Foto: Sérgio Aires
Vivemos num mundo pluricultural e colorido e não temos como evitá-lo, ao contrário devemos saber acolher a diferença. Não considero que tenhamos que ser todos iguais, gosto da diferença, porque é através da diferença que se aprende, que se enriquece cívica e culturalmente. Gosto da diferença, sobretudo, porque um ser diferente de mim pode sempre ensinar-me a ver o mundo através da sua cor.
Cresci num sítio que adorava, até que na minha adolescência, surgiu o primeiro acampamento de ciganos, e depois outro, e outro. Depois veio o tráfico de droga, e os toxicodependentes a correrem rua abaixo desesperados, em busca de um pó miraculoso. E vieram as rusgas da polícia, os tiros, as rixas, o pânico na cara dos adultos. Foi uma época marcante que determinou parte de quem hoje sou.
Nesse contexto, como é evidente, não dava para gostar muito de ciganos. Até ao dia em que seguia de carro com o meu Pai, e parámos a falar com um amigo nosso da bola, um senhor com quem costumávamos assistir aos jogos de futebol do meu Salgueiral, tinha eu uns sete, oito anos. Percebi, abismada que esse senhor, tal como alguns outros que estavam sempre lá, naquela bancada atrás da baliza, era cigano. Nunca tal me tinha passado pela cabeça, não sabia sequer que havia uma diferença… nem tinha que haver, para mim aquele senhor, amigo de infância do meu Pai, era simplesmente isso: um amigo do meu Pai, e dos bons, porque todo ele efervescia de alma salgueirista. Dos bons, porque era um homem honrado que vivia do seu trabalho como feirante, e era um homem de família.
O mundo nos últimos anos tem comprovado que o que é preocupante não é a cor da pele, mas sim a verdade que se esconde debaixo dela. Debaixo da pele reside o caráter ou a ausência dele, o equilíbrio e o extremismo, debaixo da pela não existem máscaras, e isso sim, dá que pensar e muito que temer.
(Assim de repente, faz lembrar aquela deixa majestosa do Donald Sutherland “eu confio nas pessoas, só não confio é no diabo dentro delas…”)
Ana Martins