Foto: Black-and-white - abigail2resident
O teu sorriso era diferente – o teu ar, que costumava ser calmo, era hoje agitado.
Senti-me preocupada e perguntei-te. Respondeste que estava tudo bem, apenas estavas ligeiramente cansado e abraçaste-me. Um abraço forte, um abraço demasiado forte, como se te despedisses de algo, como se te fosses ausentar. Não questionei o facto de o fazeres. Apenas retribui.
Saíste pela porta e espreitei-te pela janela, olhaste para trás e sorriste-me, acenando.
Sentia-te perto, mas longe ao mesmo tempo. Senti um calafrio, não conseguindo explicar o porquê.
Pedi-te para me mandares uma mensagem ou para me ligares quando chegasses, apesar de não ser longe – apetecia-me pedir-te, algo me dizia para o fazer.
Passou uma hora, passaram duas. Achei estranho – não costumavas esquecer-te de ligar. Liguei-te! Chamou, chamou... Ninguém atendeu. Liguei-te uma segunda vez. Atendeste! Pensei eu...
Do outro lado uma voz estranha disse "Olá!". O meu coração gelou, senti-me estremecer. Do outro lado ouvi essa mesma voz dizer-me que tinhas tido um acidente, tinhas ido de urgência para o hospital mais perto.
Corri, corri tanto. Tinha medo, medo de não te conseguir ver mais, medo de te perder. Medo de não conseguir dizer o quanto te amo. Pedia a Deus, pedia muito, para não te levar.
Cheguei. Corri até à primeira pessoa que encontrei e perguntei. Perguntei por ti, perguntei a medo. Mas estavas vivo. O mesmo minuto que foi crucial para sobreviveres, fora também o minuto para te deixar paraplégico. Um minuto que tudo mudou.
Inês Ramos