Foto: Child And Phone – George Hodan
Foi buscar este textinho algures à Internet, é claro, e possivelmente está a lê-lo no seu telefone ou no tablet, sem fios, aproveitando uma pausa, no transporte público. O mais provável é que esteja a fazê-lo em Portugal, mas pode estar algures na Europa, em África… Pois, cada vez mais de nós, em qualquer lugar, temos acesso à informação e somos inseridos na economia global. É isso: globalização!
Acolhemo-nos nesta cada vez maior massa humana que vive na economia global, com acesso à Internet e que tem acesso - como nunca teve antes, nem se supunha que pudesse vir a ter - à informação duma forma vasta e praticamente imediata. Acontece algo na Indonésia, no Chile, em Nova Iorque, São Petersburgo, Pretória e, quase que instantaneamente, todos sabemos, vemos imagens, lemos comentários, damos opiniões. Pode ser uma catástrofe natural, um acidente, um atentado, uma separação de um casal mais ou menos mediático, ou o que aconteceu a um animal. Uma hora depois, no dia seguinte, já é outra coisa e mais outra. Aquilo que tanto nos impressionou e de que todos falávamos, já está no sótão poeirento da memória, perdeu toda a importância…
Não temos tempo para gerir, filtrar e consolidar tamanho caudal de informação.
Globalização, não é? Pois é… e não está aqui também um lastimável fator de marginalização que, sem darmos conta, nos manipula? Esta onda, uma autêntica vaga de informação, de que praticamente só temos capacidade para ler “as gordas”, que não temos condições para enquadrar, que facilmente deturpamos, arrasta-nos, quais algas desenraizadas, vagando num oceano em tormenta. E então, de repente, as redes sociais tornam-se quase que a fonte única de informação, toda a gente vê e lê a mesma coisa, vê as mesmas imagens, repetidas até à náusea. A opinião tende a tornar-se única, ai de quem não alinhe pelo politicamente correto ditatorial, que agora é assim e amanhã pode ser o seu contrário.
Quem não “surfar” esta vaga do politicamente correto e da opinião unânime e que pense pela sua cabeça, pode tornar-se rapidamente num marginal, alguém estranho, esquisito, a ostracizar.
Jorge Saraiva