Foto: Pretty - Deedee86
Não sei, não sabe ninguém que força nos anima em determinadas circunstâncias. A verdade é que move e impulsiona os nossos instintos, obriga-nos a cumprir deveres e a gozar direitos e alegrias. Com ela defendemo-nos e sobrevivemos. Sentimo-la ao de leve ou a encorpar-se quando a reação assim o exige. É um processo interno, individual, que nos remexe e incomoda até lhe franquearmos saídas para se libertar. É incontrolável. A vida vai-se desenrolando larga, promissora, mas também profusa em obstáculos. E nós, porque a vida tem muita força, com essa força os vamos arredando e ultrapassando.
Acordamos e a única coisa que nos apetece é ficar deitados sem ver, ouvir ou falar. Esquecer que o mundo fervilha e nós temos que acompanhar esse movimento. Fixamo-nos no vazio, não queremos fazer nada e não sentimos vontade de contrariar esta apatia, esperamos que algo aconteça e nos anime. De repente, como que movidos por uma mola, saltamos da cama, esquecemos as razões da inércia que nos tomou ao acordar.
Que força nos anima, afinal? O amor, claro – evidenciam uns. A vontade de mudar e vencer – dizem os ambiciosos. O sentido de justiça e consciência social – afirmam os politizados. A maldade e a bondade – adiantam os moralistas. A esperança. Dizem que enquanto há vida há esperança, ou o ditame é bem, enquanto há esperança há vida? O que quer que seja, de uma maneira ou de outra, a esperança, o gosto pela vida ou a obrigação de viver impulsionam a força que há em nós. Ou será a força que impulsiona tudo isto?
Essa força denuncia-se nos atos que praticamos ou aos quais somos expostos. Não é possível quantificá-la nem mensurá-la à luz das unidades de medida conhecidas, mas é possível avaliar a grandiosidade em função das circunstâncias. Saberá alguém de quantos quilos ou metros precisa um condenado para se arrastar e subir (sabendo que não vai descer) os degraus que terminam no patíbulo? Que intrigante é essa força que vem, sabe-se lá de onde, que o mantém de joelhos, sentado ou em pé na espera do contacto frio com a lâmina ou da bala incandescente que lhe há de ceifar a vida! Não tem outra saída, dir-me-ão. E eu percebo, mas não ter outra saída não invalida a força presente na espera do momento final, o organismo simplesmente poderia desistir e abandonar-se à atonia. Mas não, reage até ao fim.
Conta-se que a rainha Antonieta no momento em que subiu ao cadafalso para ser decapitada terá pisado, inadvertidamente, o pé do seu carrasco. Com sincero pedido de desculpa ainda explicou que não o fez de propósito. Reação semelhante terá tido a Marquesa de Távora quando, ao porem-lhe o capuz e se soltou uma madeixa do cabelo, ela pediu para não a descomporem ao mesmo tempo que tapava um calcanhar que o vestido teria deixado a descoberto quando se sentou à espera que a decapitassem.
O que quer que sejamos ou nos aconteça, temos em nós uma inesgotável força energética que nos muscula a alma e não nos deixa cair vencidos.
Cidália Carvalho