O trabalho ideal é aquele que nos faz erguer manhã bem cedo, de rompante, ao primeiro toque do despertador.
É aquele que não nos faz sentir culpados por passarmos tantas horas longe da família. Que nos enamora ao ponto de pensarmos nele mesmo quando não estamos a trabalhar.
É aquele que nos faz sorrir quando alcançamos uma meta. E que, quando a alcançamos, nos impulsiona a definir uma nova.
O trabalho ideal provoca adrenalina, nervoso miudinho, stress e tensão em doses moderadas.
É aquele que nos permite fazer aquilo de que gostamos e para que estamos habilitados, mas também nos proporciona tarefas e desafios diferentes fora da nossa zona de conforto, aportando novas experiências e conhecimento acrescido.
O trabalho ideal não nos provoca um sentimento de injustiça quando olhamos para o recibo do salário no final do mês!
O trabalho ideal proporciona prazer, realização e nunca cansa, mesmo nos dias mais cansativos. Transmite-nos segurança sem nunca nos deixar acomodar.
E depois… depois, há a Joana, que como estava desempregada há quase 18 meses e queria meter o mais velho na música, enquanto o mais novo precisava urgentemente de acompanhamento médico por suspeitas de autismo, aceitou trabalhar numa empresa sem qualquer vínculo contratual. Nesse trabalho, o carro (dela) acumula km, consome combustível e o retorno - magro e sempre atrasado – só chega se houver concretização de negócio.
Há ainda o Frederico, webdesigner de profissão, que na empresa onde está desenvolve alguns projetos ligados a essa área (e tem tanto potencial!), mas também é chamado para trocar lâmpadas ou consertar o autoclismo da casa de banho quando é preciso – muitas vezes.
E a Isabel, que apesar de excelente vendedora e vitrinista, foi convidada a cessar contrato quando regressou da licença de maternidade, já que a empresa a tinha substituído por um estagiário muito mais em conta. As vendas da loja caíram a pique, por isso Isabel foi chamada… para fazer férias, baixas e épocas altas – nunca sabe quando a vão chamar novamente ou se irão renovar o contrato temporário.
Ou o Jorge, professor não colocado, que encontrou no callcenter de uma grande marca a única saída profissional disponível para poder concretizar o projeto de arrendar um T1+1 e juntar os trapinhos com a namorada. Vive na pressão constante de obter resultados, importuna centenas de clientes e de muitos deles engole “nãos” ásperos com o mesmo discurso ensaiado que aprendeu no primeiro dia.
Mas todos eles, todos nós podemos sonhar com o trabalho ideal.
Enquanto sonhamos, a realidade torna-se um pouco menos insuportável.
Sandrapep