Não é fácil para mim escrever sobre um assunto que é tão caro quanto inexistente. Mas o desafio está aí mesmo: será descabido e propositado existir o racismo até a minha liberdade terminar, porque na liberdade dos outros ele existe. E é rancoro.
Nunca entendi isso de avaliar o QI, qualidade de caráter, ou até pureza humanista, quando se depara com a cor da pele de uma pessoa. Faz algum sentido?
Convenhamos, não é isto o maior (ou mais um enorme) disparate que o Homem se lembrou de inventar? A sério que se eu for negra ou amarela (tantas vezes o sou) serei intelectualmente superior à minha colega de trabalho que é branca e loira? Posso rir-me ou é demasiado ofensivo?
É. É demasiado ofensivo. Porque existe e porque continuará ao longo da História da Humanidade.
Sou muito atenta à liberdade dos outros. Defendo veemente a liberdade que não é minha. Defendo-a como se o fosse, independentemente de amanhã estar sozinha ou não a defender a minha. O Mundo é de todos e nós não somos mais que formigas.
Hoje, num dia de profunda desilusão com o que me rodeia e com os filhos do meu Deus (ou com o Mundo, ou com a Vida… Ou até comigo), questiono-me até quando deixaremos de atacar os outros de uma forma gratuita, vil, disparatada.
É a ladainha cultural, colonial, provinciana. É o espírito da fraqueza disfarçada de superioridade e o resumo da estupidez humana num insulto ou discriminação.
Hoje não tenho palavras: hoje a minha página é um mundo em branco de incredulidade e de sentimento de desdém.
Não é fácil para mim escrever sobre um assunto que não existe no meu coração. Não é fácil para mim defender o óbvio, abrir as mentes para o discernimento do que deveria ser tão claro, transparente. Não irei defender com argumentos batidos, discutidos, levantados, aclamados. Não virei com clichês. Não defenderei o anormal nem lutarei por mentes patetas.
Tão e somente:
“Tire o seu racismo do caminho, que eu quero passar com a minha cor.”; Georges Najjar Jr
Sofia Cruz