Não há muito tempo ouvi falar pela primeira vez da Casa SOL, uma casa que acolhe crianças de projenitores seropositivos. A Casa SOL não é como uma instituição tradicional mas antes como uma família – uma família unida, forte e confiante. Frequentemente, pessoas com este tipo de doenças – ainda que crianças que nasceram já doentes – são discriminadas e colocadas à margem. No entanto, pelo que ouvi da própria voz dos jovens de que falo, a vida que conhecem não é assim.
A Casa SOL foi pioneira em diversos aspetos da sua filosofia. Se exigiu esforço e muito trabalho? Certamente. Mas trouxe também enormes recompensas. Como crianças seropositivas que viveram toda a vida dentro da realidade de medicação constante, visitas a hospitais frequentes e cuidado rigoroso com a dieta e estilo de vida, poderiam ter-se sentido marginalizadas, postas de parte. Todavia, isso não aconteceu.
Segundo o testemunho que ouvi, a consciência, conhecimento e confiança tiveram um papel importante neste aspeto. Isto é: uma vez que, desde sempre, conheceram a doença que tinham assim como todos os cuidados e deveres a ela associados, não precisavam de ter receio e puderam transmitir esta mesma segurança àqueles que se cruzaram com eles ao longo da vida. Amigos, colegas, professores – sem medo, com confiança, integraram-nos em vez de os excluir.
Há uma tendência para afastar o que é diferente. Por medo, pelo receio do desconhecido. Parece-me que é também partindo desta tendência que tanta gente é marginalizada. Pela pobreza, por doenças ou deficiências – mas quando se ultrapassa a diferença, todos somos seres humanos. Trabalhando na compreensão do que nos é estranho, trabalhamos também na aproximação. Curando o medo e o receio (que, por vezes, nem são dos outros mas de algo que eles despertam em nós próprios), poderemos ir curando as feridas de marginalização da sociedade.
Isabel Pinto