25.5.10

 

Eu gosto muito do meu avô. Da minha avó também. Mas com o meu avô é diferente: brinca comigo, não ralha, leva-me à escola, vai lá buscar-me ao final do dia… É diferente. Mas eu agora estou de férias.
 
Ontem, depois do almoço, o meu avô esteve a ensinar-me as jogar as cartas. Depois foi deitar-se, para descansar. Ao final da tarde levantou-se; eu ouvi-o a tossir.
De repente, e não sei porquê, a minha avó ficou muito nervosa. Por vezes ela enerva-se, por esta ou por aquela razão, mas nunca a vi assim tão nervosa, mesmo aflita. Mandou-me ir brincar para o rés-do-chão e não subir. Depois telefonou para a minha mãe e para a minha tia. Chorou a falar com elas, que eu bem a ouvi. Disse-lhes que era necessário avisar os meus tios do Porto e depois avisar toda a gente. Percebi que tudo aquilo tinha a ver com o meu avô, que alguma coisa se passava com ele, mas não entendi o quê. Estaria doente? O meu avô nunca estava doente – só tinha frio. Como ela estava muito nervosa e a chorar, achei melhor não lhe desobedecer e fiquei na sala; mas não tinha vontade de brincar.
Quando o meu tio Luís, irmão da minha avó chegou, foi logo lá para cima e eu continuei sem poder subir.
 
Quando os meus pais chegaram já era noite. A minha mãe vinha a chorar e o meu pai parecia zangado, mas sem ralhar. Depois disseram que o avô tinha morrido. Morrido!? Como o Aniceto, a tartaruga que a minha avó me tinha dado num Natal? Ou como o Rex, aquele cão que a minha avó tinha ao fundo do quintal? Desse eu tive saudades.
Eu queria ir para o pé do meu avô; apetecia-me encostar a ele. Pedi à minha mãe, mas ela não deixou. Disse que tinha de ficar em baixo; ele ficaria em cima. Mas ele ia ficar sempre lá em cima e eu sempre sem poder subir? Mas a minha cama estava lá em cima… como iria dormir?
Já era muito tarde quando chegaram os meus tios do Porto. Eu estava a dormir, mas ouvi-os chegar. Esses também foram lá cima, onde estava o meu avô. Todos iam lá cima, menos eu. Porquê?
 
Esta manhã, bem cedo, já todos estavam acordados. E chegaram uns senhores num daqueles carros que transportam os mortos. Foram todos lá para cima. O meu pai não parecia tão zangado e eu disse-lhe baixinho, ao ouvido, que gostava de ir lá acima, ver o avô. O meu pai não respondeu. Olhou para o meu tio do Porto e perguntou se deveria deixar-me subir. O meu tio disse que sim, mas que tivesse cuidado para ver como eu reagia. Mas eu não tenho medo do meu avô – mesmo que ele esteja morto.
E subi, com o meu pai.
O meu avô estava muito quieto com as mãos em cima da barriga, deitado num caixão, pousado no chão. Estava com a cara mais branca, mas parecia estar a dormir. Teriam a certeza de que estava morto? Fui até ao pé dele e toquei-lhe na mão. Estava muito fria.
Depois aqueles senhores pegaram no caixão e levaram-no. Para onde iriam?
 
Quando as aulas recomeçarem, quem irá levar-me à escola? Apetece-me jogar as cartas com o meu avô, encostar-me a ele enquanto ele me ensina a jogar.
 

FCC

 

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21.5.10

 

 

Em todas as culturas do mundo o conto serviu propósitos diversificados. Daí que o interesse por este, ao longo dos tempos, se tenha manifestado nas mais distintas áreas do conhecimento.
O conto estuda modelos textuais, formas primitivas de viver, estabelece regras de funcionamento da narrativa, explica conflitos humanos… Em suma, o conto levanta questões que dizem respeito a todos nós. Fala-nos de aspectos da vida social, do comportamento humano, do comportamento emocional (amor, ódio, raiva, amizade) e, frequentemente, apresenta-nos contrastes que Bettelheim (1998) tão bem retratou: Bem – Mal; Luz – Trevas; Saúde – Doença; Noite – Dia.
A criança que ouve contos organiza melhor o discurso na mente e, consequentemente, cria e desenvolve estruturas que lhe permitem poder vir a compreender qualquer tipo de narrativas, por exemplo, a sua própria narrativa…
Ora, os contos, têm como base a palavra. Através dela colocam-se, perante as crianças, os fragmentos de vida, do mundo, da sociedade, do ambiente imediato ou longínquo, da realidade alcançável ou não, da própria fantasia.
Eu acredito que ao falarmos sobre a morte podemos fortalecer relações com os outros, como também podemos valorizar mais a própria vida e aceitar o que o destino nos reserva, e do qual não podemos fugir.
 
Mas, quem quer falar sobre a morte com crianças? A resposta provavelmente será NINGUÉM. Os adultos querem proteger as crianças dessas experiências dolorosas e evitar ter essas conversas.
A inevitabilidade da morte é uma condição da qual não podemos fugir, por isso evitar este assunto poderá dificultar, na criança, o entendimento dela sobre outras situações da vida. Isso não quer dizer que se fale disso o tempo todo, mas que se deve aproveitar a sua ocorrência para abordar a questão, sem exageros de protecção, até porque a criança, ao longo da sua vida, irá deparar-se com algumas perdas (entes queridos, animais de estimação…).
Muito do que aprendemos nas nossas vidas depende, por vezes, do que nos contam. De facto, contar histórias é uma forma de divertir as pessoas, de educar, de dar a conhecer, auxiliar, sensibilizar, organizar sentimentos, enfrentar tabus e medos…
Mas como é que a MORTE surge na nossa Literatura Infantil?
 
Através da Literatura Infantil pode-se lidar com todo o tipo de sentimentos, tanto da parte de quem conta a história como pela própria história em si, que pode narrar algo com que a criança se identifique.
Acredita-se que as crianças que ouvem contar histórias que abordem estas temáticas têm mais facilidade na compreensão e na aceitação da situação vivida, pois promove uma certa empatia e aproximação entre o adulto e a criança.
O tema da morte está presente em toda a Literatura Infantil. É raro o livro para crianças que não fala sobre esta temática, senão vejamos:
 
BRANCA DE NEVE E OS 7 ANÕES
Quem morre? Branca de Neve, e só renasce com o beijo do Príncipe…
 
BAMBI
Quem morre? A mãe de Bambi e o pai…
 
MOGLI  (“O LIVRO DA SELVA”)
Quem morre? Os pais de Mogli…
 
A CAROCHINHA E O JOÃO RATÃO
Quem morre? O João Ratão…
 
PETER PAN
Quem morre? O Capitão Gancho…
 
…e a lista continua…
 
Aproveitem e valorizem cada segundo do vosso tempo, já que o destino está traçado, e da morte ninguém jamais poderá fugir…
 
Susana Quesado / Maria Graça Sardinha
 
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24.12.09


 


O Natal para mim é giro porque recebo prendas e estou com a família.

 

A meio de Novembro já estou a pedir à minha mãe para fazer a árvore de Natal, mas não vale a pena porque em minha casa só a fazemos no dia 8, que por acaso coincide sempre com a festa de anos de um amigo meu. O que mais prazer me dá ao fazer a árvore de Natal é por as fitas, porque posso atirá-las bem alto, mas antes disso gosto de por os ramos da árvore artificial, direitos.

 

Embora goste do bacalhau, os doces, como as rabanadas, o creme, que prefiro sem ser queimado, é o que é melhor da comida do Natal. Mas também há outras coisas boas.

 

Gosto de estar com a família para brincar e elas, ou eles, trazerem os tais doces. Quando recebo as prendas, gosto logo de as abrir e começo logo a brincar com elas. Mas só começo a brincar com uma de cada vez.

 

O que me deixa triste é saber que existem famílias que não podem festejar o Natal, porque não têm dinheiro, uma casa ou mesmo família. Eu gostava que essas famílias também pudessem festejar o Natal e gostar dele como eu gosto.

 

Eu desejava que o Natal fosse Feliz de festejar.

 

André

(9 anos)

 
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1.12.09


 

Ainda me lembro do Natal… há muito tempo atrás, quando era uma criança, e o natal parecia um evento maior, mais feliz e emocionante, todos nos juntávamos na casa dos avós e todos, mesmo todos, fazíamos uma grande festa… eram primos, tios, irmãos, todos misturados, ríamos e brincávamos… os garotos cá fora a correr nem sentiam o frio na pele, que era muito na altura! Apenas as faces rosadas e o nariz vermelho! As mulheres atarefadas a preparar os manjares, que sempre me cativaram, os odores misturados, a água na boca… os homens a conversar com gargalhadas estridentes e junto à lareira… logo escurecia, e a chamada para a mesa era ponto fulcral, pequenos para um lado, graúdos para o outro… como eu gosto do Natal! Sabores, cheiros, prazer nos rostos de todos e nenhuma máscara para enfeitar! E quando o relógio avançava, os miúdos deliravam, a altura das prendas chegara! Mas, não como agora, eram prendas mais sentidas, mais pequeninas na sua dimensão, todavia mais queridas! Agora as exigências são outras! E a missa do galo à nossa espera na escuridão da noite, ninguém se queixava do frio ou cansaço… era uma vez o Natal do antigamente… não tão antigo assim, mas para mim parece… a única coisa que permanece são os cheiros e sabores tradicionais que teimam em não desaparecer, pelo menos na minha família, mais reduzida agora, ou mais separada digamos…

 

Hoje o Natal é mais comercial. Continua a ser das crianças… hoje sou eu que dou as prendas e não penso no que posso receber, já não escrevo cartas ao Pai Natal…tento que as ofertas sejam sobretudo simbólicas, como simbólico é o Natal… ou era!

Hoje são as filas nas lojas, comprar por comprar, só para dizer que se dá e que não nos esquecemos de quem só lembramos porque é Natal! Pessoas que avivam o espírito natalício com o stress, encontrões, palavrões e afins! O dar já não é como antigamente… não damos, competimos! Dar é quem se dá aos outros, aos outros que não têm ninguém para receber ou se dar!

 

Talvez o Natal tenha sido sempre assim, mas como era criança via-o com outros olhos e não reparava nestes detalhes… era apenas feliz por ali estar com a minha família toda, mesmo toda!

 

Cecília Pinto


 

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