O que lhe parecia impossível, aconteceu...
As dores, tão insuportáveis que chegou a temer não aguentar, esfumaram-se, deram lugar à alegria de ser mãe.
Enlevada, olha o filho que a enfermeira lhe pôs sobre o ventre. Retrai o impulso de lhe tocar; parece-lhe tão frágil que tem medo de o magoar. Depois, timidamente, afaga-lhe a carinha, as mãos e os pezinhos - é perfeito. Ternura é o que transmite nos gestos e a cada choro, ou tremura, encosta-o mais a si; quer que se sinta seguro.
Ainda no gozo deste primeiro encontro e já o marido irrompe pela sala, ansioso, e como ela, feliz. Hesita, não sabe a qual deles dar atenção. Olha o filho com amor enquanto acaricia a sua mulher.
Ela sente-se completa e muito orgulhosa, também ela conseguiu dar à luz...
Uma lágrima solta-se a reclamar a recompensa: atento ao sinal, ele beija-a. Entre ambos, promessas mudas de estarem sempre juntos e serem uma família feliz.
Inexperientes na tarefa de criar e educar fizeram do tema motivo de grandes diálogos; com o tempo, terminaram em grandes discussões. Discordaram de pequenas coisas, acabaram em total desacordo.
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“Gosto muito dos meus pais mas fico muito triste porque estão sempre a discutir”.
Quiseram poupar o filho ao estigma de “filho de pais separados”; lutaram por aquela união. O empenho foi recíproco mas as zangas sucediam-se e as acusações eram mútuas. Ele cada vez mais ausente, ela cada vez menos compreensiva e tolerante, ambos a reclamar para si o esforço de ainda estarem juntos. Entre eles, a preocupação com o bem-estar do filho, com o seu futuro.
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“Em casa do meu pai tenho mais liberdade, posso fazer o que quero mas também gosto de estar em casa da minha mãe. Ela obriga-me a estudar mas depois deixa-me brincar com a playstation”.
Cidália Carvalho