14.5.10

 

A morte é palavra concreta em qualquer cenário de guerra. Sendo a guerra um contexto rico em emoções negativas, são muitos os participantes que as experienciam e as carregam para o resto da vida, com mais ou menos recursos pessoais e sociais para as digerir.
Nós, que todos os dias bebemos informação de diferentes guerras que se espelham pelo globo e vemos a morte com olhos vacinados contra as emoções adversas que esta possa causar, não imaginamos o que será experienciar a morte num cenário tão violento como é a guerra.
O que sentirá um combatente que, com a arma embrenhada nos braços, vê ao mesmo tempo o seu parceiro cair por terra atingido pelo inimigo, enquanto luta pela sua sobrevivência? O que sentirá ao ver-se incapaz de acudir ao colega para evitar a sua morte, porque está sob balas? Qual a sensação de ver a morte diante de si, a escorrer por cada fio de sangue e olhá-la nos olhos de um companheiro? O que sentirá ao atingir também o seu inimigo com as mesmas balas que há instantes retiraram a vida ao seu parceiro? Ódio, vingança, culpa? Quem sabe? Embora guerreiros, diferentes emoções devem sentir quando presenciam a morte de todos os ângulos. Talvez o medo seja o sentimento que esteja sempre presente em cada olhar de guerreiro… ou talvez não… talvez a ausência de si mesmo num momento tão limite seja mais constante.
 
E como será esperar o regresso da guerra, de um filho que poderá nunca mais voltar? Que lágrimas guarda a mãe do soldado depois de tantas derramadas na incessante ansiedade de receber um sinal de vida do seu filho? Qual a consolação de um pai, ou mãe, no heroísmo da morte do seu filho, por uma causa nem sempre partilhada?
Porém, não só de combatentes se faz a guerra. Também de comunidades, repletas de homens, mulheres, crianças. Quem sabe a cor das emoções que se extravasam na alma de uma criança que estremece ao cair de uma bomba tão perto da sua casa? O que será ver os nossos familiares e vizinhos jazendo inanimados, como cenário do dia-a-dia? Que esperam estas pessoas da morte? Alívio? O mesmo medo e assombro que todos nós? Ou um modo de estar na vida? Que esperanças na vida têm estas pessoas alheias aos intuitos dos senhores da guerra?
E por fim temos estes mesmos, os senhores da guerra, que assistem do cadeirão das suas mansões, aos cenários por si montados. Com que emoções estes senhores contabilizam mortes? Indiferença? Qual será o sentimento ao deitar, perante as suas ordens diárias para os milhares de combatentes ao seu comando?
 
A morte é uma realidade física praticamente igual para qualquer ser humano. Pode variar a sua execução, mas a paragem dos sinais vitais acontece do mesmo modo. A realidade psicológica desta, varia de pessoa para pessoa, mas é com certeza extremamente diferente num cenário tão mortal como a guerra.
Aos que sobrevivem a este flagelo, o que lhes resta? Sentimentos de culpa, medos, desesperança, incapacidades. Talvez uma vontade de morrer, num assombro constante de recordações vivas desse pesadelo. Talvez uma vontade de esquecer e ser de novo, de renascer, pelos que devido à morte, já não o podem fazer.
 

Cecília Pinto

 

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