19.2.10


 


Aos dezasseis anos a vida parece uma corrida de 100 metros e nós não podemos perder o arranque inicial, sob risco de ficarmos para trás. Temos de experimentar tudo e viver tudo, como se não houvesse amanhã.

Como é óbvio, eu não era diferente e desde cedo me senti tentada a descobrir o mundo que me rodeava, apesar de todos os avisos que os meus pais, diligentemente, insistiam em dar.

Nos intervalos das aulas comecei a fumar uns charros, com os meus colegas, nas traseiras do ginásio, achando que ninguém se aperceberia dos meus olhos vidrados e vermelhos e do riso constante durante as aulas. De uma forma natural e progressiva cada vez me interessava menos pelas aulas e comecei a faltar mais e mais, até a escola deixar de fazer sentido para mim; afinal de contas tudo o que eu precisava de saber da vida estava bem longe dali.

Comecei a sair mais à noite e a beber para me sentir livre e descontraída. Os rapazes começaram a reparar em mim, o que me fazia sentir bonita e desejada. Gostava de lhes agradar e a forma mais fácil e natural passou pelo sexo. Era algo em que eu era boa e tudo correria bem, se não tivesse engravidado.

Depois de todas as asneiras que fui fazendo, os meus pais, finalmente, fartaram-se e tive de sair de casa. Agora com uma criança nos braços, vejo-me obrigada a ganhar dinheiro para nos sustentar. Sem formação escolar e sem conhecimentos no mercado de trabalho, a única alternativa que encontrei, foi fazer o que já fazia para ser aceite, mas desta vez por dinheiro.

Se o sexo me meteu nesta alhada, é ele que me ajuda a sobreviver.

  

AT


 

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15.1.10

 


 


Quando me convidaram para abordar o tema família “através do pilar sexo”, pensei imediatamente na ligação entre estas duas palavras; não existe família (descendência) sem sexo, mas existe sexo sem família. Como é reconhecido, vivendo num país maioritariamente cristão, mais propriamente católico apostólico romano, o sexo é para se “fazer” dentro de portas com o respectivo cônjuge. Qualquer escapadela a esta norma será sancionada pela sociedade em geral (em princípio excluindo o grupo de amigos onde ainda vigora a sexualidade do caçador / recolector), e poderá ser também pelo próprio (devido aos seus valores e normas de conduta). Isto é válido para ambos os sexos. Contudo, nem todos os casais são casados (cônjuges) e nem todos são heterossexuais, não deixando por isso de constituir um núcleo familiar. Deste modo, evitarei falar em homem/mulher e o termo família será reduzido à sua expressão de casal.

 

Tal como qualquer outra necessidade, e por necessidade estou a abranger as emocionais, físicas, económicas etc., o sexo é efectivamente um pilar essencial. Já foi sobejamente demonstrado que a libido difere de indivíduo para indivíduo. Cada pessoa vive a sua sexualidade de forma independente, procurando o prazer através dos meios que o facilitam ou o concretizam. Assim sendo, o somatório dos desejos e pulsões de dois indivíduos diferentes têm de se “encontrar” num ponto de equilíbrio. Muitos casais conseguem-no, outros não. Sou da opinião (e estejam à vontade para discordar) que poucos são os casais que estão plenamente satisfeitos com a sua sexualidade. Isto porque a sexualidade não se resume ao sexo (acto em si). Digo isto porque a sexualidade é um constructo extremamente complicado até para o próprio. Dou-vos um exemplo: quantos de nós não nos sentimos já atraídos/excitados, por uma pessoa, um som, um cheiro, etc., que noutra circunstância/contexto não aconteceria? Por vezes reúnem-se um conjunto de factores que nos “ligam” (tradução livre do turn on) sem que tenhamos uma explicação racional para tal. Pois é… a sexualidade, por vezes, não pode nem deve ser racionalizada. No nosso íntimo, quantas vezes já confessámos “eu até pensei que não ia gostar disto”, ou “ nunca pensei que fosse tão bom”? Fica a demonstração que a sexualidade tem a capacidade de surpreender até a nós próprios. O que é bom! Muito bom mesmo! E é mau! Muito mau mesmo! Desta dicotomia entre o desejável e o concretizável surgem os conflitos e as frustrações (internas e externas). Deixando as internas para cada um, analisemos as externas, as do casal portanto. Num casal, o concretizável deverá impor-se ao desejável. Caso contrário, apenas e só se o desejável for desejado por ambos. Neste caso, estaremos no domínio da sexualidade satisfatória, sendo o limite da busca do prazer da responsabilidade dos dois, situação onde é minha opinião que não deverão existir limites na procura do prazer conjunto, para além da observância da liberdade e das leis do nosso estado de direito. Como referi no início, entendo que a grande maioria dos casais não vive uma sexualidade plenamente satisfatória. O recurso à prostituição prospera, o número de divórcios não pára de aumentar, a igreja católica admite que as instituições família e casamento estão em crise e começam a ser cada vez mais comuns e aceites as traições (exemplo recente o da esposa de um ministro da Irlanda). Claro que tudo não é culpa de uma sexualidade insatisfeita, mas esta tem efectivamente a sua quota-parte de responsabilidade.

 

Em resumo: a sexualidade é um pilar na vivência quotidiana do casal, enquanto que o sexo é o instrumento pelo qual o casal gera uma prole. A sexualidade é partilhada e complexa (apesar de muitas vezes não o parecer), enquanto é também particular e complexa. Uma não existe sem a outra mas ainda bem que todos temos um recanto onde podemos guardar as nossas fantasias, podendo partilhá-las com outro se assim o desejarmos.

 

Rui Duarte


 

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