Foto: Homeless - Peter Griffin
E o Homem tudo cria, orientado pelos seus desejos e ilusórias necessidades. De tudo é capaz para ver realizado o seu sonho, movido pelas fraquezas próprias da sua raça. A fome e a luxúria, opostos com que lida diariamente, enfraquecem a Divina Força que nele habita e facilmente deixa-se tentar, agindo como um animal na conquista da sua presa. Em vez de garras afiadas e dentes canibais, luta com a ganância, com a traição, com a raiva, com a inveja, com o desespero e até com a morte do seu mais fiel amigo se assim for necessário. O desespero de ver os seus filhos morrer à fome, de não ter como fazer face às despesas mais básicas, levam-no a cometer atos impensados… Outros, porque desejam o aumento do seu património, passam por cima de todos aqueles que barrarem o seu caminho, usando as mais fantásticas acrobacias, para enriquecer ainda mais o seu exterior. Todos correm em direção à força máxima que atualmente comanda este planeta, o Dinheiro. Lindos e animados recortes de papel e metais reluzentes tomam conta dos nossos dias… Vivemos preocupados em não ter o suficiente, em cairmos em desgraça porque ele pode faltar- nos. É verdade, torna-se assustador só de imaginar que os nossos bolsos e contas bancárias esvaziem… Mas não podemos deixar que este medo controle as populações, não podemos deixar enganar-nos com a quantidade de solicitações diárias que nos chegam, que nos tentam, que iludem os nossos sentidos. Não precisamos assim de tanto para viver com dignidade, mas sim, precisamos de muito para vivermos como Reis. Depende da consciência de cada um deixar-se manipular pela quantidade de alimentos prazerosos e vícios infundados que nos cercam, devido à nossa baixa autoestima e carências de todas as formas. Com estas fraquezas somos facilmente atingidos pelas grandes forças que controlam a humanidade. E se seguirmos a corrente, claro que vamos sentir que precisamos de muito e que para isso temos que trabalhar até à exaustão para, na realidade, estarmos a alimentar falsas necessidades.
Trabalhei durante uns meses com um grupo de pessoas, a que dão o nome de sem- abrigo, onde pude constatar situações, até um certo ponto, caricatas. Homens, mulheres e crianças apareciam todos os dias à mesma hora para receberem uma refeição e eu de coração aberto entregava nas suas mãos o alimento que lhes ia trazer alguma dignidade naquele dia. Alguns deles realmente viviam momentos de grande carência, especialmente os mais idosos que foram abandonados pela família. Outros comunicavam por telemóveis topo de gama, talvez roubados, não sei… Outros acompanhavam a refeição com garrafas de vinho… e outros, quando recebiam o rendimento social de inserção, gastavam-no em álcool e drogas. De forma alguma pretendo julgar o tipo de prioridades que cada um tem em relação a onde usar o dinheiro; com isto pretendo ilustrar algumas das supostas desgraças que nos cercam no dia-a-dia. Esta experiência trouxe-me alguma paz de espírito pelo facto de ter percebido que ninguém, atualmente, morre de fome ou de frio. As nossas sociedades estão muito bem dotadas de mecanismos que não deixam que isto aconteça. Todas as falsas desgraças passam por uma questão de prioridades… E de elevação de consciências… Mudemos a nossa perspetiva com a coragem de analisar com transparência que, a grande parte das vezes, o dinheiro falta apenas para alimentarmos o nosso ego. Se vivermos com humildade, rapidamente percebemos que poderemos ser muito felizes se deixamos de focar que temos que ter aquilo que ilusoriamente vamos sonhando. E que sonhos!!! O dinheiro compra matéria não Amor.
Joana Pereira